México recorda os 50 anos do massacre de estudantes de Tlatelolco
Cinquenta anos depois do massacre de estudantes da Plaza de Las Tres Culturas de Tlatelolco, no centro da Cidade do México, ex-líderes do movimento, ativistas e dirigentes de esquerda realizaram nesta terça-feira (2) uma passeata em memória dos mortos, cujo número exato continua desconhecido. Uma cerimônia também foi organizada na praça de Zócalo, centro da capital.
"Em 1968, houve uma grande explosão de valores. Ficou claro para as pessoas que a luta era necessária para a construção de um novo país", declarou Felix Hernandez, de 72 anos, um dos líderes do movimento que exige saber quantos estudantes morreram e por quais motivos foram mortos. Na tarde de 2 de outubro, Hernández estava junto a outros oradores em uma tribuna improvisada, explicando às 8.000 pessoas presentes os resultados de uma reunião que havia tido com representantes do então presidente, Gustavo Díaz Ordaz.
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Vários jovens já haviam sido mortos em protestos reprimidos pelas forças de segurança, e o movimento ganhava cada vez mais popularidade. Hernández recorda que, de um momento para outro, rojões iluminaram o céu e, em seguida, franco-atiradores abriram fogo durante meia hora contra os manifestantes. Depois, soube-se que os rojões eram o sinal para dar início aos disparos.
Hernández recorda que viu muita gente morrer. Depois passou dois anos e meio na prisão. Na véspera, alunos da Faculdade de Artes Cênicas reencenaram o massacre para recordar os mortos e denunciar que o que era um comício pacífico virou uma cena de horror. Habitantes de Tlatelolco relataram à imprensa na ocasião que viram centenas de corpos em poças de sangue, amontoados dentro de caminhões, ou empilhados nos cantos da rua.
Investigações revelaram que o governo teria usado três corpos de segurança para reprimir o comício. Uma das corporações era formada por franco-atiradores, cuja única missão era executar militantes e estudantes.
Terremoto histórico
"O ano de 1968 foi um terremoto histórico, que mudou a vida política do México para melhor, e seus efeitos continuam até hoje", escreveu o historiador mexicano Enrique Krauze no jornal "The New York Times". A recente vitória do esquerdista Andrés Manuel López Obrador confirma esse legado, segundo Krauze.
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Recentemente, López Obrador foi à Plaza de Las Tres Culturas e disse que seu governo, que começa em 1º de dezembro, jamais recorrerá à repressão. López Obrador não falou, porém, sobre a reabertura de arquivos oficiais sobre este evento, o que é reivindicado por sobreviventes, parentes de vítimas e historiadores para fazer justiça aos mortos.
Mais de 30 anos após o massacre, Luis Echeverria - assessor de Diaz Ordaz - foi julgado pelo crime de genocídio. Devido à idade avançada, ele enfrentou apenas a prisão domiciliar e conseguiu liberdade condicional.
Embora faltassem 10 dias para as Olimpíadas na época, os correspondentes esportivos já estavam no México em 2 de outubro, e alguns documentaram o massacre. A imprensa informou entre 300 e 500 mortos, enquanto o governo reconheceu a morte de apenas 20. (Jennifer Gonzalez Covarrubias - AFP)