Rebelião militar em apoio a Guaidó mergulha Venezuela na incerteza
O opositor Juan Guaidó tentou nesta terça-feira (30) obter apoio a uma rebelião militar para destituir o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em um movimento aparentemente malsucedido que mergulhou o país na incerteza. Em um vídeo divulgado na noite desta terça (30), Guaidó convocou a população a manter os protestos previstos para o dia 1º de maio. "O apelo à Força Armada é seguir avançando na operação Liberdade (para tirar Maduro). Amanhã, primeiro de maio, continuaremos (...). Por toda a Venezuela, estaremos nas ruas".
Apesar de não ter conseguido quebrar o apoio do alto comando militar a Maduro, o líder opositor disse que a revolta evidenciou fraturas: "ficou claro que a afirmação do regime de que controla a Força Armada é uma farsa". "Demonstramos que há soldados dispostos a defender a Constituição, e restam muitos mais", declarou Guaidó, reafirmando que "Maduro não tem o apoio da Força Armada".
Em sua primeira aparição - em rede nacional - após a revolta, Maduro declarou a "derrota" da sublevação militar, que definiu como uma "escaramuça golpista". O presidente felicitou a Força Armada pela "derrota do pequeno grupo que pretendeu levar a violência" à Venezuela, e advertiu que os líderes da revolta e os militares envolvidos serão julgados por seus crimes. "Isto não pode ficar impune. Falei com o procurador-geral, que designou três procuradores (...) que já estão interrogando todos os envolvidos" e "dirigindo as denúncias pelos graves crimes contra a Constituição, o estado de direito e o direito à paz".
Segundo serviços de saúde, pelo menos 69 pessoas ficaram feridas, duas delas baleadas, durante as manifestações da oposição
Maduro afirmou que os rebeldes queriam "uma tragédia", com "50, 100 ou 200 mortos"; mas as forças leais puderam controlar a situação. A ONG de direitos humanos Provea relatou protestos em 22 dos 24 estados, e que um manifestante morreu no Estado de Aragua.
Segundo serviços de saúde, pelo menos 69 pessoas ficaram feridas, duas delas baleadas, durante as manifestações da oposição. Em sua mensagem à Nação, Maduro informou que cinco militares e três policiais ficaram feridos a bala durante a revolta.
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Um grupo de 25 militares rebelados, tenentes e soldados, pediu asilo na embaixada do Brasil em Caracas. Uma multidão de chavistas cantava "vitória popular" diante do Palácio Presidencial de Miraflores, enquanto manifestantes opositores permaneciam nas imediações da base aérea de La Carlota.
Os Estados Unidos, principais aliados de Guaidó, advertiram o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que esta é sua "última oportunidade" de romper com o líder socialista. Segundo John Bolton, assessor de segurança nacional do presidente Donald Trump, o general Padrino, o presidente da Suprema Corte, Maikel Moreno, e o chefe da Guarda Presidencial, Iván Hernández, tinham se comprometido a "derrubar Maduro". Mas Padrino reiterou seu compromisso com Maduro e denunciou a rebelião como uma tentativa "grosseira e inútil". "Eles passaram vergonha novamente e isso nos fortalecerá".
Na manhã desta terça-feira, depois de anunciar o início da rebelião na base aérea de La Carlota, em Caracas, para a qual ele pediu o apoio de todas as Forças Armadas, Guaidó percorreu vários pontos da cidade junto com alguns insurgentes. Seu correligionário Leopoldo López, que o acompanhou na empreitada nesta terça, acabou se refugiando, junto com sua família, na embaixada chilena em Caracas, de onde se transferiu para a sede diplomática da Espanha no início da noite.
Horas antes, de madrugada, ele foi libertado por militares leais a Guaidó. Detido em 2014, López cumpria desde 2017 uma condenação de 14 anos em prisão domiciliar por "incitação à violência". "O momento é agora! (...), rua sem saída", disse Guaidó, que recebeu o apoiou o presidente americano, Donald Trump.
Um grupo de opositores foi atingido por um veículo militar, segundo imagens de televisão, e militares dispararam bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes de dentro da base de La Carlota. O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, denunciou que os Estados Unidos e outros países da região sabiam de antemão os planos de rebelião militar contra o governo de Nicolás Maduro e conspiraram para provocar "uma guerra civil" na Venezuela. "Essa nova tentativa de potências estrangeiras para promover uma guerra civil, abrir as portas a um intervencionismo e colocar um governo fantoche em nosso país fracassou", disse a jornalistas o representante de Maduro nas Nações Unidas.
'Carlotazo'
Guaidó anunciou o levante em um vídeo que, segundo ele, foi gravado em La Carlota, a principal base aérea do país, onde ele apareceu com Lopez e um pequeno grupo de militares. "Hoje, bravos soldados, corajosos patriotas, bravos homens ligados à Constituição atenderam ao nosso chamado", afirmou Guaidó.
Cercado pelo alto comando, Padrino reiterou seu compromisso com Maduro e denunciou a rebelião como uma tentativa "grosseira e inútil". "Eles passaram vergonha novamente e isso nos fortalecerá", disse.
O governo venezuelano tirou do ar a emissora de rádio RCR e as redes de televisão CNN Internacional e BBC Mundo, de acordo com esses veículos e com sindicatos. Uma multidão de chavistas cercou o palácio presidencial de Miraflores, no centro, a pedido de seus líderes. O número dois de Chávez, Diosdado Cabello, disse que a insurreição foi o trabalho de uma "pequena fração das Forças Armadas e do Sebin (serviço de inteligência)".
Reações divididas
Cuba, Bolívia e Turquia, aliados de Maduro, condenaram a "tentativa de golpe de Estado", enquanto a Colômbia, que junto com Washington liderou a pressão contra o líder socialista, apoiou a rebelião. Rússia e México pediram negociações. O presidente Jair Bolsonaro manifestou o apoio do Brasil "ao processo de transição democrática" no país vizinho.
Segundo o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, Maduro estava pronto para deixar a Venezuela e seguir para Cuba, mas foi dissuadido pela Rússia. "Ele tinha um avião na pista, estava pronto para ir embora esta manhã, pelo que sabemos, e os russos disseram a ele que deveria ficar", disse Pompeo, em entrevista à CNN.
Na mensagem da noite desta terça-feira, Maduro respondeu: "até onde chega a falta de seriedade, a insensatez, a loucura, a mentira e a manipulação deste Mike Pompeo". O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para que se evite a violência e se restaure a calma. O Grupo de Lima se reunirá na sexta-feira na capital peruana para avaliar com urgência a crise na Venezuela após a rebelião em apoio ao presidente interino Juan Guaidó, informou nesta terça-feira o governo do Peru. Os militares são considerados a espinha dorsal de Maduro, que lhes deu amplo poder político e econômico. (AFP)