Sem trabalhadores, Itália perde plantações
Desolada, a italiana Floriana Fanizza observa seu campo de aipos, perdidos por não terem sido colhidos a tempo, devido à falta de mão de obra.
Com as colheitas perdidas e as dificuldades de venda, o coronavírus impactou totalmente os agricultores italianos, já bastante afetados pela seca.
Segundo o principal sindicato agrícola, Coldiretti, quase quatro em cada dez empresas do setor de frutas e hortaliças estão enfrentando dificuldades hoje em dia.
Suas vendas diminuíram, devido ao bloqueio das fronteiras e ao fechamento de restaurantes, um fenômeno que não foi compensado pelo aumento das vendas nos supermercados.
As próprias colheitas estão em perigo, em função da falta de mão de obra de trabalhadores temporários, geralmente estrangeiros.
No início das medidas de contenção, Floriana Fanizza, proprietária de uma fazenda com sua família em Fasano (Apulia, sul), ficou sem equipe já que alguns de seus funcionários preferiram parar de trabalhar por medo do vírus.
Todos os anos, cerca de 350.000 estrangeiros trabalham, de forma temporária, no setor agrícola italiano. A ministra da Agricultura, Teresa Bellanova, admitiu que este ano faltarão “entre 250.000 e 270.000” trabalhadores.
Regularização em massa
O fenômeno gerou uma crise “dramática” no setor, reconhece Coldiretti, que calcula que 27% dos dias úteis são trabalhados por estrangeiros.
O desafio é significativo, inclusive para a autossuficiência alimentar. A Itália é o terceiro produtor agrícola europeu em termos de valor (56,6 bilhões de euros em 2019), depois da França (75,4 bilhões) e muito próxima da Alemanha (57 bilhões).
Grande parte desses trabalhadores são estrangeiros que não podem entrar no país por causa das medidas de prevenção contra o coronavírus.
A ministra da Agricultura propôs a regularização em massa dos imigrantes ilegais na Itália, mão de obra considerada indispensável para reativar a economia paralisada pelo fechamento das fronteiras.
A proposta foi totalmente rejeitada pela xenófoba Liga de Matteo Salvini de extrema direita, enquanto o Coldiretti se mostrou favorável.
Por enquanto, o governo respondeu com um fundo de 100 milhões de euros para apoiar as empresas agrícolas, ao qual se acrescentam outros 50 milhões para a compra e a distribuição de alimentos para os mais pobres. O objetivo destas medidas é evitar o desperdício e a queda dos preços. (AFP)