Manaus e compra de vacinas dominam 2º dia de depoimento
Para Pazuello, crise sanitária é de responsabilidade de todos os gestores
Em depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou que há responsabilidade pela situação da pandemia no Brasil em todos “os níveis” de gestão. “Todos os gestores em todos os níveis são responsáveis. Há responsabilidade em todos os níveis, claro que há, cada um no seu nível”, disse o ex-ministro em resposta a senadora Leila Barros (PSB-DF). Pazuello ainda negou que fosse o único ou principal culpado pela crise sanitária enfrentada no País.
Pazuello voltou a dizer que a responsabilidade pelo problema de desabastecimento de oxigênio em Manaus é de responsabilidade do Estado do Amazonas e da White Martins, empresa fornecedora. “É obvio se eu tivesse sido acionado antes teria agido antes”, disse ele, que alegou ainda ter tentado “o tempo todo” antecipar a compra de vacinas e evitar mortes.
O ex-ministro da Saúde disse aos senadores que, enquanto ocupou a pasta, decidiu sozinho estratégias em relação à pandemia e dividiu responsabilidades com gestores dos estados, municípios e com os secretários do ministério.
“A pandemia tem decisões em muitos vetores e no nível na Saúde, temos também decisões escalonadas, do ministro, de secretários, de estados e prefeitos, decisões tripartites. Não tomei decisões sozinho, eram pactuadas, discutidas de uma forma clara e objetiva com os executivos do Conass [Conselho Nacional de Secretários de Saúde] e do Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde]”, explicou.
TratCov
Outra pergunta respondida por Pazuello foi sobre o aplicativo TratCov. Pela plataforma, pacientes descreviam os sintomas e, ao final, recebiam receitas de medicamentos como e ivermectina e hidroxicloroquina, sem eficácia comprovada contra a Covid-19.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), quis saber por que o app foi criado e divulgado pela TV Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O ex-ministro argumentou que a sugestão do app veio da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Ribeiro. Na prática, disse Pazuello, a ideia era criar uma calculadora para “facilitar” o diagnóstico da Covid-19 em Manaus, que à época enfrentava a falta de oxigênio hospitalar.
O ex-ministro detalhou que, entre 6 e 11 de janeiro, ‘inclusive no final de semana‘, a equipe da pasta pegou uma base da internet e colocou os parâmetros dos sintomas da Covid-19 dentro dessa calculadora. Segundo Pazuello, o TratCov ainda não estava completo quando foi apresentado e acabou sendo hackeado.
Vacinas
Sobre o processo de compra de vacinas pelo Brasil, o ex-ministro atribuiu a demora na compra de imunizantes da Pfizer e da Coronavac ao cumprimento da Lei do Sistema Único de Saúde (SUS).
Especificamente sobre a Coronavac, do Instituto Butantan, disse que a aquisição da vacina não sofreu interferência do presidente Jair Bolsonaro. “O que não houve foi a interferência no processo. Não havia compra, não havia contrato, a intenção de compra foi mantida. Não houve atraso.”, destacou Pazuello.
O depoimento do ex-ministro começou quarta (19), mas foi interrompido, depois de mais de sete horas de duração, por causa do início da Ordem do Dia do Senado. (Da Redação com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)