Medicamentos e dois soros estão em teste contra a Covid
Com a vacinação ainda longe de imunizar a maioria da população mundial contra a Covid, laboratórios farmacêuticos já testam em seres humanos medicamentos contra a doença. As gigantes Pfizer, MSD e Roche são as mais adiantadas, desenvolvendo antivirais de uso oral. A Boehringer investe em tratamento com anticorpos monoclonais. No Brasil, dois soros, um do Instituto Butantan e outro do Instituto Vital Brazil, devem começar a ser testados em pacientes nos próximos meses. A expectativa é de algum projeto conseguir sucesso até o início de 2022.
Os principais objetivos das novas terapias são reduzir as internações e as mortes causadas pela doença. Diferentemente de antibióticos, que em geral podem ser usados contra vários tipos de infecções bacterianas, os medicamentos contra um tipo de vírus dificilmente funcionam no combate a outros. Os vírus são muito mais diversos, e têm menos proteínas próprias em comum que possam ser usadas como alvo genérico.
Para um remédio funcionar, ele precisa atingir um “alvo” -- geralmente, uma proteína. Isso é particularmente difícil com os vírus, que se replicam dentro das células humanas. Assim, fazem os mecanismos celulares trabalharem a favor deles. Para ser eficaz, o medicamento precisa entrar nas células infectadas e atacar o vírus. Mas deve fazê-lo sem destruir seu hospedeiro.
Um dos projetos mais avançados é o da MSD em associação com a empresa de biotecnologia Ridgeback Biotherapeutics. O composto se chama molnupiravir. Foi inicialmente desenvolvido contra a Sars e a Mers. Em estudo de fase 2, o medicamento foi bem tolerado em humanos -- tomado na forma de comprimido, duas vezes ao dia durante cinco dias.
A ideia é que o medicamento atue no início da infecção, quando os primeiros sintomas surgem. A terceira fase dos testes já está começando. Envolverá mais de mil pessoas em 18 países, entre eles o Brasil.
Outro projeto é da farmacêutica Roche em parceria com a Atea Pharmaceuticals. O medicamento também oral está sendo testado em 1,4 mil pessoas na Europa e no Japão. Os primeiros resultados são esperados até o fim deste mês.
Anticorpos e soro
A Boehringer Ingelheim tenta outra abordagem. Trata-se da produção de anticorpos monoclonais (fabricados em laboratório, a partir de células vivas). “Quando pensamos em tratar uma infecção viral existem duas estratégias: agir diretamente no vírus, nas proteínas que auxiliam na replicação viral, ou impedir o vírus de entrar na célula”, explicou a diretora médica da Boheringer, Thais Gomes de Melo.
Os cientistas identificaram no plasma de pacientes com Covid anticorpos específicos que atuam na proteína S do vírus, que permite a sua entrada na célula. Esses anticorpos foram replicados sinteticamente em laboratório para o desenvolvimento do tratamento.
No País, o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Vital Brazil, no Rio, desenvolveram soros que podem ser aplicados tão logo o paciente apresente os primeiros sintomas. Os dois institutos se preparam para o início dos testes em seres humanos. (Da Redação com Estadão Conteúdo)