Atos da Independência pintam o Brasil de verde-amarelo

Milhões de pessoas lotaram as ruas e avenidas das principais capitais brasileiras neste 7 de Setembro

Por Cruzeiro do Sul

Avenida Paulista ficou tomada por manifestantes em apoio a Jair Bolsonaro

Milhares de pessoas estiveram, ontem (7), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para acompanhar o desfile militar. A maioria vestia verde-amarelo e agitava bandeiras do Brasil. Faixas espalhadas pelo local criticam ministros do Supremo Tribunal Federal e defendiam medidas contra a corrupção e propostas antiaborto. O presidente Jair Bolsonaro participou da cerimônia que deu início às comemorações do bicentenário da Independência.

Bolsonaro chegou ao desfile no clássico Rolls Royce presidencial, com a faixa presidencial no peito, e acompanhado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e várias crianças.

O presidente e sua esposa sorriram e cumprimentaram o público, enquanto avançavam pela Esplanada dos Ministérios.

Quebrando o protocolo, Bolsonaro desceu do veículo e continuou a pé, cumprimentando de perto milhares de pessoas que estavam lá para acompanhar o desfile. A passagem do presidente foi comemorada pela população presente. ‘Mito, mito!‘, gritaram seus seguidores.

O desfile militar, cancelado em 2020 e 2021 devido à pandemia, ocorreu sob um forte esquema de segurança.

A parada militar transcorreu tranquilamente com a passagem das tropas das Forças Armadas, da Polícia Militar, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Corpo de Bombeiros Militar. Enquanto esteve no palanque oficial, Bolsonaro se limitou a acenar para o público.

Encerrado o desfile, o presidente se dirigiu a um trio elétrico montado num caminhão e discursou para os apoiadores. Bolsonaro garantiu que a esquerda não voltará ao poder e que as pesquisas eleitorais ‘mentem‘ e não mostram a realidade das ruas.

‘Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso ’datapovo’‘, disse o presidente diante de milhares de seguidores em Brasília, referindo-se à pesquisa que atribui uma vantagem confortável ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (45% de intenções de voto, contra 32% para Bolsonaro) no primeiro turno das eleições de 2 de outubro.

Embora houvesse palavras de ordem golpistas entre a população, Bolsonaro falou em tom eleitoral e mais moderado do que em 7 de setembro do ano passado, quando disse que ‘só Deus‘ poderia tirá-lo do poder.

Para Bolsonaro, trava-se no país uma ‘luta do bem contra o mal‘. A esquerda ‘deseja voltar à cena do crime. Não voltarão‘, acrescentou o presidente, referindo-se aos escândalos de corrupção que abalaram os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) entre 2003 e 2016.

‘Lula ladrão, seu lugar é prisão!‘, gritava a multidão sobre o ex-presidente, que foi preso na operação Lava Jato, até que suas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal.

‘A voz do povo é a voz de Deus‘, disse Bolsonaro enquanto a multidão de apoiadores vaiava a Suprema Corte brasileira. ‘Hoje todos sabem que é o Poder Executivo, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal. Todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal‘, disse ele. ‘Todos nós mudamos. Todos nós nos aperfeiçoamos e podemos ser melhores no futuro.‘

‘Com a reeleição, traremos para as 4 linhas todos os que ousam ficar fora delas‘, disse o presidente da República, que no entanto evitou atacar frontalmente a Corte e os ministros. Durante o breve discurso, Bolsonaro também fez críticas ao PT. ‘Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. Um mal que perdurou por 14 anos no nosso País, que quase quebrou a nossa Pátria e que agora deseja voltar à cena do crime. Não voltarão! O povo está do nosso lado. O povo está do lado do bem. O povo sabe o que quer‘, disse Bolsonaro.

De Brasília, o presidente seguiu para o Rio de Janeiro onde uma outra manifestação foi organizada na praia de Copacabana.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, Bolsonaro participou de uma motociata até a praia de Copacabana. Ele estava acompanhado do candidato a vice na sua chapa, general Braga Netto, do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e do filho e senador Flávio Bolsonaro (PL).

Em seu discurso, Bolsonaro atacou seu principal rival nas eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidenciável do PL acusou o partido petista de ser uma quadrilha e acrescentou que ‘esse tipo de gente‘ tem que ser ‘extirpada‘.

Bolsonaro destacou os avanços do Brasil, e disse que o momento econômico que o país atravessa é exemplo para o mundo, alertou para o avanço da esquerda na América Latina e focou em questões da moralidade cristã.

Bolsonaro disse que o Brasil está diante de um ‘momento de decisão‘. E garantiu que, se reeleito, fará um governo muito melhor.

‘Neste momento de decisão - e vocês sabem que nós somos escravos das nossas decisões - vejam a vida pregressa [dos candidatos], não só pessoal mas também ao longo do seu respectivo mandato, para vocês poderem fazer a sua decisão‘, pediu o presidente.

‘Eu tenho certeza que vocês sabem o que nós devemos fazer para que o Brasil continue no caminho em que está. Vocês sabem também que hoje temos um governo que acredita em Deus, que respeita policiais e militares. Sabem que esse governo defende a família brasileira. E, o que é mais importante, é o governo que deve lealdade ao seu povo. Eu irei para onde vocês apontarem. Tenha certeza que teremos um governo muito melhor com a nossa reeleição, com a graça de Deus‘, completou Bolsonaro.

São Paulo

Em São Paulo, as manifestações do 7 de Setembro tomaram a avenida Paulista. Milhares de pessoas estiveram lá vestidas com camisetas verde-amarelo e com muitas bandeiras do Brasil. A multidão se estendeu por quase toda a avenida, desde o final, já na rua da Consolação até perto do número 900, onde está o prédio da TV Gazeta. Nesse percurso, estavam sete caminhões de som, com apoiadores utilizando os microfones para gritar palavras de apoio a Bolsonaro e de críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT ao Palácio do Planalto.

Muitos seguravam cartazes contra Lula, com dizeres como ‘Lula ladrão‘, ou em defesa das quatro cores da Bandeira Nacional, ao afirmar que ela ‘nunca será vermelha‘, pois ela segue o ‘Data Povo‘.
Havia um clima de paz e até de festa na avenida Paulista, celebrado por músicas do Legião Urbana e As Frenéticas.

Frases bíblicas, menções a Deus e sermões religiosos predominam nos discursos de apoiadores do presidente Bolsonaro. ‘Deus está conosco. Deus está com o povo e com o presidente Bolsonaro‘, disse um pastor em um dos caminhões de som espalhados pela avenida. ‘Supremo é Deus. O poder emana de Deus‘, disse outra liderança sobre caminhão, após repetir o lema do presidente ‘Brasil acima de tudo e Deus acima de todos‘.

Repercussão

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes postou uma mensagem no Twitter minutos após o fim do desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios.

‘O Bicentenário de nossa Independência merece ser comemorado com muito orgulho e honra por todos os brasileiros e brasileiras, pois há 200 anos demos início a construção de um Brasil livre e a histórica marcha pela concretização de nosso Estado Democrático de Direito‘, diz a mensagem.

A candidata à presidência da República pelo União Brasil, Soraya Thronicke, publicou ontem de manhã um vídeo em que critica a transformação do bicentenário da Independência do Brasil e dos símbolos nacionais em pautas eleitoreiras.

‘Hoje eu estou vestida de amarelo, uma das cores da nossa bandeira, a cor que significa prosperidade e riqueza, muito diferente do que a gente está vendo pelos quatro cantos do País, que é fome, desalento, desemprego, desespero. Pior do que o ódio, é o medo que estão tentando plantar em nós. Nada de medo, vamos juntos todos, porque o Brasil é nosso, as cores são nossas, a bandeira é nossa‘, afirmou a senadora.

A candidata Simone Tebet (MDB) afirmou que, apesar dos 200 anos de Independência, a emancipação ainda é um sonho a ser atingido no Brasil. A emedebista disse que, para um país ser independente, é preciso garantir cidadania ao seu povo.

‘200 anos se passaram, e vemos que a independência ainda é um sonho a ser atingido‘, declarou a candidata, em publicação no Twitter. ‘Um país, para ser independente, precisa garantir cidadania ao seu povo. Comida na mesa, educação de qualidade, emprego, renda e lazer‘, concluiu ela.

O candidato Ciro Gomes (PDT) pediu para que, nesta data, nada nem ninguém seja capaz de roubar a paz e a liberdade do povo brasileiro. Para ele, o Brasil deveria comemorar o bicentenário ‘vivendo dias melhores‘ e critica a ‘má política‘ como porta de entrada dos atuais problemas.

O ex-presidente Lula, também candidato à Presidência da República postou um vídeo celebrando a independência do Brasil, com bandeiras do País e ao som do hino nacional. Aconselhado por aliados, Lula decidiu permanecer em casa nesta quarta para não medir forças com o seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em meio às comemorações dos 200 anos de Independência, o candidato ao Senado pelo Paraná e ex-juiz, Sergio Moro (União Brasil), pediu para que, nas eleições de outubro, o Brasil ‘declare sua independência e grite pela sua liberdade‘. Ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro vem acenando em apoio ao atual chefe do Executivo nacional.

‘Neste bicentenário da independência, grite por um Brasil livre da velha política, da injustiça, da pobreza e da corrupção‘, declarou Moro, em publicação no Twitter. (Da redação com informações Estadão Conteúdo e AFP)