Ministro empregou piloto e gerente de haras próprios na Câmara
Juscelino Filho disse que as nomeações foram feitas "em conformidade com as regras" da Casa; os dois seguem alocados no Congresso
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, empregou seu piloto de avião particular e o gerente de seu haras em Vitorino Freire, no Maranhão, como funcionários da Câmara. As informações foram divulgadas nesta terça-feira (28) pelo jornal O Estado de S. Paulo. Segundo a publicação, a Câmara já pagou mais de R$ 1,2 milhão aos dois no período de 2016 até fevereiro de 2023. O valor leva em conta salários, férias e gratificações.
O gerente e o piloto estavam trabalhando no gabinete do ministro até o início deste ano, quando Juscelino Filho se licenciou do cargo de deputado para integrar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois, os funcionários migraram para o gabinete do suplente do ministro, o deputado Dr. Benjamim (União Brasil-MA).
O gerente do haras, Klennyo Ribeiro, foi contratado em 2016 como assessor. Recebe salário de R$ 7.849,16. Ao ser procurado pelo O Estado de S. Paulo em fevereiro, disse trabalhar no estabelecimento: “Acompanho as coisas lá [no haras]”, afirmou. O jornal entrou novamente em contato com ele na segunda-feira (27) Ribeiro, então, mudou a versão e disse: “Não mexo lá mais não”. Ao jornal, Dr. Benjamim confirmou que Ribeiro trabalha no haras, mas, “às vezes, em outro horário”.
Klennyo Ribeiro foi candidato a vice-prefeito de Vitorino Freire em 2008, na chapa encabeçada pela mãe de Juscelino. Eles não venceram. Registros da Justiça Eleitoral mostram que, quando já era funcionário da Câmara, ele emprestou seu carro para Juscelino usar na campanha de 2018. Já o piloto, Leumas Rendder Campos Figueiredo, foi contratado por Juscelino em novembro de 2018, como secretário parlamentar da Câmara. Recebe salário de R$ 10.200,00. Ao ser procurado pelo O Estado de S. Paulo, ele se recusou a detalhar quais seriam seus cargos no gabinete de Juscelino e de Dr. Benjamim.
“Eu não devo satisfação da minha vida para ninguém”, declarou. O piloto é sócio-administrador de duas empresas com sede em São Luís (MA): a Like Serviços Aéreos – que atua como agência de viagens, locadora de aeronaves e presta serviços de malote – e o Centro de Instrução de Avião Ltda. –que tem cursos de pilotagem. O manual de requisitos e impedimentos para a posse de funcionários de gabinetes da Câmara proíbe a nomeação de funcionários que sejam administradores ou gerentes de empresas.
Ao substituir Juscelino, Dr. Benjamim fez uma nova contratação: Pedro Pereira Bringel Filho, tio de Juscelino. Ele ocupou a vaga deixada por sua mulher, tia do ministro, a advogada Mara Bringel. Ela esteve no gabinete do sobrinho de 2021 a 2022. Em nota, Juscelino disse que as nomeações foram feitas “em conformidade com as regras” da Câmara dos Deputados. Segundo o ministro, os contratados “prestam suas atividades com zelo, profissionalismo e regularidade, no apoio à atividade parlamentar em Brasília e no Estado, seja presencialmente, seja em modelo híbrido ou remoto na pandemia”.
Perguntado por que manteve contratados o gerente do haras, o piloto e empregou o tio de Juscelino, Dr. Benjamim declarou: “Porque eu quis. Contrato quem eu quiser para o meu gabinete”.
Comissão de Ética
A Comissão de Ética Pública da Presidência da República analisa a conduta de Juscelino em outro episódio de suposto mau uso de dinheiro público. Ele utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em uma viagem de Brasília a São Paulo para participar de um leilão de cavalos de raça. Além de ter usado o avião da FAB para participar de leilões de cavalos, Juscelino também foi acusado de fazer uso irregular do fundo eleitoral e de usar emendas do Orçamento em benefício próprio em 2022, quando era deputado federal. Ele destinou R$ 7,5 milhões em emendas de relator à prefeitura de Vitorino Freire é Luanna Rezende (União Brasil), irmã do ministro. O caso veio à tona no fim de fevereiro. (Estadão Conteúdo)