Estudo pioneiro no Cerrado paulista quantifica carbono no solo

Projeto do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) mede estoque em áreas com manejo de fogo e onde a supressão da queima levou à deformação

Por Cruzeiro do Sul

Órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, conduz pesquisa em conjunto com cientistas estrangeiros

Um estudo pioneiro no país e no exterior, conduzido pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), quantifica o estoque de carbono subterrâneo em diferentes tipos de vegetação e práticas de manejo no Cerrado. Além de pesquisadores do IPA, o projeto conta com a participação de cientistas do Brasil, dos Estados Unidos e da China.

Intitulado “Efeitos do fogo e de sua supressão sobre a estrutura, o estoque de carbono, a composição e a biodiversidade da comunidade vegetal no gradiente fisionômico do Cerrado”, o projeto é mais uma etapa de estudos realizados em unidades de conservação estaduais há décadas. Desde 1987, em Assis, é feito o monitoramento das perdas de biodiversidade e comprometimento dos serviços ambientais devido à supressão total do fogo por mais de 50 anos no Cerrado, que é um bioma adaptado e dependente do fogo para sua conservação.

Queimadas controladas

Em Águas de Santa Bárbara, onde há queimas experimentais controladas, a pesquisa vem sendo feita, desde 2015, para definir as melhores práticas de manejo do fogo no Cerrado. O pioneirismo da pesquisa de quantificação de carbono reside na forma como o estudo é conduzido, que utiliza equipamentos inovadores como um radar que detecta raízes grandes e profundas.

Em conjunto, as pesquisas realizadas nas duas unidades têm comprovado que, sem fogo, o Cerrado perde diversidade de plantas e animais e tem a recarga hídrica reduzida. Além disso, com base nos primeiros dados do novo projeto em andamento, é diminuída a proporção de carbono nas raízes e no solo. Essas áreas não queimadas também perdem as espécies com maior proporção de raízes em relação à sua parte aérea. Os pesquisadores trabalham para medir essa diferença, quantificando o carbono a partir de amostras de solo e raízes coletadas em diferentes profundidades.

“É importante destacar a singularidade da abordagem multidisciplinar das pesquisas realizadas nas últimas décadas, que agora dão um passo adiante com a quantificação do carbono nas raízes e no solo. É um experimento único no Brasil e no mundo”, afirma a pesquisadora do IPA e coordenadora do estudo, Giselda Durigan, ao acrescentar que os estudos anteriores incluíram flora, fauna, propriedades dos solos e hidrologia.

Histórico da pesquisa

Os trabalhos desta etapa de quantificação do carbono abaixo da superfície do solo foram iniciados em junho e irão até meados de agosto. Em 2024, nova expedição será realizada para dar continuidade à amostragem, que precisa acontecer durante a estação seca. As conclusões virão apenas depois dessa fase, quando será possível demonstrar a quantidade de carbono estocado pelos diferentes tipos de vegetação do Cerrado paulista, desde um campo aberto até o cerradão.

O cerrado abrange 13 estados, em uma área de 200 milhões de hectares. Deste total, 211 mil hectares estão no Estado de São Paulo, o que corresponde a savana mais rica em diversidade do mundo e o segundo maior bioma do país, superado apenas pela Floresta Amazônica. (Governo de SP)