Escolas destacam história afro-brasileira no segundo dia de desfiles na Sapucaí
Seis escolas do Grupo Especial fecharam o Carnaval carioca ontem. Apuração das campeãs será amanhã
A Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, recebeu ontem (12) à noite o segundo e último dia de desfiles do Grupo Especial. Mais seis escolas entraram na avenida em busca do título de campeã do carnaval carioca. São: Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Unidos de Vila Isabel, Mangueira, Paraíso do Tuiuti e Unidos do Viradouro.
Em destaque estão os enredos que homenageiam personalidades e histórias da população afro-brasileira, como a cantora Alcione (Mangueira), o livro “Um Defeito de Cor” (Portela), o almirante negro João Cândido (Tuiuti) e divindades africanas (Viradouro).
Cada agremiação teve entre 1 hora e 1 hora e 10 minutos para atravessar a Sapucaí. Há penalização para aquelas que não conseguem concluir sua apresentação a tempo. De acordo com a programação, o último desfile estava previsto para iniciar entre 3h e 3h50 de hoje.
Primeira noite
A primeira noite de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, que começou às 22h de domingo (11), e terminou às 5h50 de ontem, teve sustos, acidente, luxo, tecnologia e animação. A única exibição praticamente irretocável foi da atual campeã, Imperatriz Leopoldinense, que é candidata ao bicampeonato. No outro extremo, a Porto da Pedra teve problemas com dois carros alegóricos e é séria candidata a ser rebaixada.
Depois de 12 anos na segunda divisão, a Porto da Pedra voltou à elite com o enredo “O Lunário Perpétuo: a Profética do Saber Popular”, sobre o livro escrito em 1594 pelo matemático espanhol Jerónimo Cortés (1560-1610). Trata-se de um almanaque que reúne conselhos e orientações sobre os mais variados aspectos da vida, incluindo tabelas das fases da lua, dos eclipses do sol e das festas populares, previsão do tempo, horóscopo e dicas de direito.
A escola apresentou fantasias e alegorias muito luxuosas e fazia um desfile bastante animado, mas problemas com dois carros alegóricos - o primeiro e o sexto e último - comprometeram completamente a exibição. O abre-alas quebrou bem em frente a uma das cabines de jurados. O último carro alegórico era tão grande que não estava conseguindo fazer a curva necessária para entrar na pista de desfile. Durante a tentativa de manobra, a lateral direita do carro bateu numa grade que separa a pista da área destinada à imprensa e a outros profissionais que trabalham no evento. Uma mulher foi atingida pelo carro e sofreu escoriações.
A dificuldade para manobrar o carro alegórico causou um buraco de mais de 100 metros no desfile da Porto da Pedra, o que certamente também vai gerar perda de pontos. Para que a alegoria entrasse na pista, foi preciso arrancar elementos que estavam na lateral direita. Também foi necessário desconectar a alegoria, inicialmente composta por três partes. Só a primeira foi para a avenida. Com tantos problemas, a escola corre sério risco de voltar à segunda divisão.
Beija-Flor
Apresentou o enredo “Um Delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. A escola de Nilópolis (Baixada Fluminense) partiu da história de Benedito dos Santos, engraxate que criou um bloco de Carnaval em Maceió e se dizia descendente de um príncipe etíope, e fez um desfile luxuoso e animado, mas não chegou a empolgar o público, além do Setor 1 (a concentração).
Salgueiro
Discorreu sobre o povo indígena yanomami. A escola fez um desfile correto, mas o samba, que despontava como um dos melhores do ano, também não empolgou a maior parte do público.
Grande Rio
A quarta escola a se apresentar foi a Grande Rio, de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), que expôs o enredo “Meu Destino é ser Onça!”, a partir de um livro homônimo do escritor Alberto Mussa. A agremiação distribuiu pulseiras de LED para o público e manipulou a iluminação do sambódromo para destacar alegorias e fantasias da primeira parte do desfile, quando o preto e a luz negra predominaram. A estética da escola impressionou, mas o samba não empolgou nem os componentes da escola -- a reportagem flagrou foliões de várias alas que não cantavam.
Unidos da Tijuca
A representante da zona norte do Rio contou a história de Portugal com o enredo “Conto de Fados”. Foi um desfile correto, mas monótono - a mesma história já foi contada em vários outros desfiles, até da própria Tijuca em 1990 - , e o público mais uma vez não se empolgou.
Imperatriz Leopoldinense
A última a se exibir foi a atual campeã. Com o enredo “Com a Sorte Virada pra Lua Segundo o Testamento da Cigana Esmeralda”, a escola de Ramos (bairro da zona norte do Rio) partiu da obra de um cordelista, Leandro Gomes de Barros, para falar sobre previsões, sorte, azar e o futuro da própria Imperatriz. O samba, que resultou da junção de duas composições concorrentes, empolgou o público. Fantasias e alegorias foram de fácil compreensão, como é habitual na obra do carnavalesco Leandro Vieira. Com vestimentas leves, os integrantes puderam cantar e dançar com liberdade. Houve um único problema numa alegoria, que foi levemente danificada pelo movimento incorreto dela própria. Apesar disso, saiu da passarela como candidata ao título.
Encerrados os desfiles, é esperar pela quarta-feira de Cinzas e pela apuração do Carnaval, quando será conhecida a campeã do Carnaval Carioca de 2024.
Entenda a fantasia de Paolla Oliveira
A atriz Paolla Oliveira desfilou para a Grande Rio, sob o enredo de “Nosso Destino é ser Onça”, como rainha de bateria, no domingo (11). Mas o que surpreendeu foi a fantasia de Paolla, que abraçava a expressão “ser onça”, com uma espécie de máscara do felino que cobria seu rosto e se abria momentaneamente.
Em entrevista para o Gshow, o dono do atelier responsável pelo projeto, Bruno Oliveira, explicou que o capacete foi equipado com um motor controlado por sistema arduino para coordenar a posição e movimento da máscara. Já os olhos da onça eram feitos de lâmpadas LED.
“A gente gosta muito de ousadia e dessas transformações. Foi o casamento perfeito com o que a Paolla estava buscando no momento e o que a gente gosta de realizar”, afirmou ele. A fantasia começou a ser produzida em setembro.
Na Sapucaí, fantasia era controlada pela própria Paolla por meio de um controle remoto, contou ela em entrevista para a Tv Globo, após o desfile. “A onça não deixa o controle nas mãos de outra pessoa” brincou a atriz.
A peça utilizou mais de 40 mil vidrilhos e cristais, mas não tem valor estimado. (Da Redação com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)