Tragédia no RS impacta a vida de milhões de gaúchos
Porto Alegre tenta resgatar pessoas antes da volta das chuvas, mas encontra resistência
A pior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, e que já causa impacto para cerca de 2 milhões de pessoas, impõe às vítimas a necessidade de conviverem com diferentes camadas de tristeza. Em alguns casos, a dor de perder a própria casa e reconstruir a vida se mistura com a angústia de não encontrar parentes desaparecidos.
Com previsão de chuvas intensas até o início da semana, brigadistas que trabalham no centro histórico de Porto Alegre, uma das regiões mais atingidas pela enchente, tentam convencer últimas pessoas a deixarem a região antes que o nível da água volte a subir. Ontem (11), o trabalho foi feito por uma patrulha das Guardas Municipais de Porto Alegre e de São Paulo.
De acordo com o Climatempo, até amanhã (13), deve chover cerca de 300 mm no Estado. A média varia de 140 mm a 180 mm. A concentração dos maiores volumes de chuva na Serra Gaúcha preocupa, já que é onde nascem os rios que deságuam, por exemplo, no Guaíba. Até o momento, o Estado registra 136 mortos em decorrência das inundações.
Ontem, sob uma forte chuva, Alex Bittencourt, descia um balde amarrado em uma corda para receber doação de água, entregue por voluntários. O morador está em um prédio no centro histórico junto com outras seis pessoas, que se recusam a deixar o local com a justificativa de que ir para abrigos seria um opção pior do que ficar cercado por água, próximo às margens do Rio Guaíba.
“A previsão é de 20 dias para baixar a água. Vai subir agora de novo, porque vai dar uma chuva na serra. Tem barco para sair”, afirmava o guarda Alessandro Silva, da Guarda Metropolitana de São Paulo, que está no Sul desde o início da semana auxiliando nos salvamentos.
Apesar do alerta, Bittencourt insistiu que as outras pessoas não queriam deixar o local. Segundo ele, ainda há mantimentos como arroz, feijão, e ainda há gás para cozinhar. Os moradores também conseguiram uma bateria para carregar o celular.
“Tem pessoas se arriscando para trazer coisas para vocês. A orientação é todo mundo sair. A gente está entrando aqui todo dia se arriscando. O pessoal tem que sair o quanto antes”, pediu o guarda Pedro Grangeiro.
A enchente no centro de Porto Alegre, mesmo após a baixa temporária da água, ainda chega a dois metros em alguns pontos. O vazio destoa das ruas movimentadas do centro em dias normais. Palácios históricos, como o Mercado Público, estão cercados pela água. Na rodoviária e na estação de trem, a paisagem, com vagões em meio às águas, mostra como o cotidiano dos gaúchos foi totalmente interrompido pelas cheias. O centro da capital expõe a fragilidade das grandes cidades diante da natureza impactada pelas mudanças climáticas.
Nesse cenário, um idoso e uma mulher acenavam da janela. Diante da aproximação dos brigadistas, no entanto, recusaram o resgate e diziam estar seguros no prédio, sobretudo no próprio apartamento. (Estadão Conteúdo)