Copom prolonga taxa básica em 13,75%

É a segunda vez que a Selic é mantida, após o mais longo ciclo de alta de juros da história

Por Cruzeiro do Sul

Setor industrial espera início do processo de corte dos juros

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), do Banco Central, manteve ontem a Selic em 13,75% ao ano e voltou a indicar a permanência da taxa básica de juros em patamar elevado por “período suficientemente prolongado” até a estabilização da inflação. Em comunicado divulgado após sua reunião, também ressaltou que “a conjuntura, ainda particularmente incerta e volátil, requer serenidade na avaliação dos riscos”.

É a segunda vez consecutiva que o Copom mantém a Selic em 13,75%, depois de ter concluído, no encontro de setembro, o mais longo ciclo de alta dos juros da história -- iniciado ainda em março de 2021. Nesse processo de aperto monetário, foram 12 altas consecutivas, com um aumento acumulado de 11,75 pontos porcentuais, o maior desde 1999. Mesmo com a manutenção, a Selic está no patamar mais alto desde o fim de 2016.

Para a economista da XP, Tatiana Nogueira, o BC vai se manter em modo “esperar para ver” até as incertezas tanto no Brasil quanto no exterior se dissiparem . Ela lembra que tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), adversários no segundo turno da eleição presidencial, já disseram que vão mexer na regra do teto dos gastos. “Dado que a dívida e o serviço da dívida brasileiros continuam elevados, consideramos uma nova âncora fiscal (crível) como condição essencial para que as expectativas de inflação convirjam para a trajetória da meta”, afirmou.

“Esperávamos que ele (o Banco Central) iria manter esse discurso conservador, porque o IPCA ainda tem mostrado uma desinflação pequena no curto prazo, com a queda mais focada em administrados”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

Entre os riscos de alta para o cenário de inflação, o Copom mencionou três fatores. O primeiro é uma maior persistência das pressões inflacionárias globais. O BC também cita a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil e estímulos fiscais adicionais que podem sustentar a demanda agregada.

O BC também atualizou suas projeções para a inflação. A projeção para o IPCA de 2022 foi mantida em 5,8%. No caso de 2023, a projeção passou de 4,6% para 4,8%. Para 2024, a atualização foi de 2,8% para 2,9%.

O aumento ou a manutenção de juros em patamar elevado se reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A Selic também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou entender a decisão do Copom, mas disse esperar o início em breve do processo de redução da Selic. “Os juros em nível mais baixo deixam de representar entrave tão intenso ao consumo e aos investimentos e, assim, permitem melhor desempenho da economia. E, além disso, não comprometem o processo de combate à inflação. Para permitir um início mais rápido e uma queda mais intensa da taxa de juros, é importante o controle dos gastos públicos e compromisso com o equilíbrio fiscal”, afirmou o presidente da entidade, Robson de Andrade. (Estadão Conteúdo)