BC ignora pressões e mantém Selic a 13,75%

No comunicado após reunião, não há sinais de que haverá redução dos juros

Por Cruzeiro do Sul

É o maior patamar da taxa de juros desde janeiro de 2017

Em meio a pressões crescentes do governo Lula pela queda nos juros, mas ainda no escuro em relação à proposta da equipe econômica de âncora fiscal que vai substituir o atual teto de gastos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve ontem a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.

No comunicado divulgado no fim da reunião, o colegiado não só não deu sinais de que pode antecipar o início de um ciclo de redução dos juros, como repetiu que existe a possibilidade de voltar a aumentar a Selic “caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. A Selic permanece no maior patamar desde janeiro de 2017.

O Copom enfatizou que a incerteza nos cenários avaliados força o BC a continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. Diferentemente do comunicado anterior, porém, a autoridade monetária não citou dessa vez a possibilidade de estacionar a Selic por mais tempo que o previsto em seu cenário de referência.

Após a volta parcial da tributação sobre a gasolina, no começo de março, a equipe econômica dobrou a cobrança por uma sinalização do Copom sobre o início do corte da Selic. No mercado financeiro, a expectativa é de que isso ainda possa ocorrer a partir do segundo semestre.

O Copom até citou a reoneração dos combustíveis como responsável por reduzir a incerteza sobre os resultados fiscais de curto prazo, mas disse que permanecem alguns fatores de risco: a maior persistência das pressões inflacionárias globais; as dúvidas sobre o novo arcabouço fiscal no País e seu impacto na trajetória da dívida pública; e um aumento das expectativas de inflação para prazos mais longos.

A decisão do Copom pela manutenção da taxa Selic é “equivocada” na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a instituição, “o cenário atual indica que o Copom já deveria ter reduzido a Selic nesta reunião” e a expectativa agora é de que o processo de redução dos juros tenha início no próximo encontro do comitê, nos dias 2 e 3 de maio.

Em nota, a CNI diz acreditar que a manutenção da taxa de juros é, neste momento, desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, não poupou críticas ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, após a manutenção da Selic. “Não dá para compreender essa decisão”, criticou o ministro. “Quando cair a taxa de juros fica mais fácil para o povo consumir, fica mais fácil para o empresário poder investir na agricultura, no comércio, na indústria”, acrescentou. (Estadão Conteúdo e Redação)