Montadoras falam em retorno do carro popular

Retomada do conceito, dos anos 1990, é discutida com o governo

Por Cruzeiro do Sul

Frente a março de 2023, mês que teve cinco dias úteis a mais, abril mostrou queda de 19,4% na fabricação de veículos

O retorno da produção de carros populares -- ou de entrada, como são chamados hoje -- é um dos temas que o setor automotivo está levando ao governo Lula. Grupo liderado por montadoras, empresas de autopeças e concessionárias já manteve conversas com representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), comandado por Geraldo Alckmin.

A justificativa atual é a redução das vendas de carros novos como consequência da queda do poder aquisitivo dos consumidores, dos juros elevados e crédito restrito e do alto custo dos modelos com maior índice de tecnologia e segurança -- que têm seu público, mas em menor número entre os consumidores.

O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), José Andreta Júnior, afirmou que o setor precisa de escala; do contrário, não consegue gerar rentabilidade, o que poderia abrir as portas para demissões no setor. Estudo da consultoria S&P Global mostra que as montadoras operam com quase 40% de ociosidade.

Ao divulgar na terça-feira o balanço de vendas do trimestre, Andreta disse que “o crescimento do setor tem de vir de baixo para cima e atingir o consumidor que, hoje, não consegue mais comprar carro zero”. A Fenabrave tem um banco de dados que será colocado à disposição do governo para “ativar a produção (de carros mais baratos) no Brasil”, afirmou ele.

Atualmente, apenas dois carros à venda são considerados de entrada: o Renault Kwid, que custa R$ 68,2 mil, e o Fiat Mobi, a R$ 69 mil.

Na semana passada, Antonio Filosa, presidente na América do Sul da Stellantis -- dona da Fiat, da Jeep, da Peugeot e da Citroën --, também se mostrou empenhado na volta dos chamados carros populares. Em sua visão, é necessário, primeiro, definir o conceito de carro popular que, para ele, é pequeno, mais simples, com menos equipamentos, mas seguro. Para baratear o preço, defendeu a redução de impostos, definir os itens de segurança essenciais e baratear o crédito.

O conceito de carro popular, criado em 1993, estabeleceu alíquota menor de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros com motor 1.0. “Mas, hoje, até carro com motor turbo ou aspirado tem motor 1.0”, ressaltou o executivo, referindo-se a produtos mais sofisticados.

Segundo Andreta, a ideia é que cada segmento dê sua contribuição, como ocorreu com o acordo automotivo feito nos anos 90, mas, acrescentou, ainda não há propostas na mesa.

A discussão sobre a retomada do carro popular ocorre num momento em que montadoras começam a suspender a produção e a dar férias coletivas aos trabalhadores por falta de demanda. Atualmente, há estoques para 40 dias de vendas. (Estadão Conteúdo)