Mudanças climáticas são desafio à política monetária

A sociedade e os governos, porém, mostram-se poucos dispostos em acelerar a transição em direção a uma economia mais sustentável

Por Cruzeiro do Sul

Secas e energia elétrica mais cara afetam a economia

As mudanças climáticas entraram no foco da política monetária por seus impactos na produção e, por extensão, preços de alimentos. A sociedade e os governos, porém, mostram-se poucos dispostos em acelerar a transição em direção a uma economia mais sustentável, ao passo que os bancos tampouco estão preparados aos riscos climáticos. Esse foi o quadro apresentado por dirigentes de bancos centrais da Alemanha e do Chile em painel sobre o tema na conferência anual do Banco Central brasileiro, realizada na semana passada.

Membro do comitê executivo do Bundesbank, o banco central alemão, Sabine Mauderer defendeu que os bancos centrais tenham papel central no debate por os riscos climáticos representarem também riscos financeiros. “Por que os bancos centrais deveriam se preocupar com riscos climáticos se não conseguem nem cumprir suas funções de estabilidade? Porque são riscos financeiros”, declarou a representante do Bundesbank.

Já Elías Albagli, diretor da divisão de política monetária do banco central do Chile, observou que a transição climática avança lentamente porque os custos de adversidades relacionadas ao clima são subestimados, assim como falta interesse do público em pagar o custo de introdução das tecnologias de baixa emissão. “Os políticos não estão preocupados com isso porque os eleitores não estão preocupados com isso”, avaliou o economista.

Albagli levou ao evento estimativas que mostram que as emissões, mesmo se metas forem cumpridas, terão um aumento de 15% em dez anos, quando o objetivo no Acordo de Paris era de reduzi-las entre 35 e 45% até 2030. “São promessas vazias porque não serão concretizadas.”

Citando a grave seca pela qual o Brasil passou em 2021 e no início de 2022, Sabine Mauderer chamou a atenção para a perda de 30% dos resultados agrícolas no ano passado, além de forte alta dos preços de energia. “Os riscos climáticos físicos e de transição podem causar custos econômicos significativos que podem gerar perdas financeiras.”

Para Elías Albagli, há muitos avanços positivos no financiamento da agenda climática, porém os recursos seguem abaixo do necessário. (Estadão Conteúdo)