IPCA registra deflação de 0,08% em junho conforme dados do IBGE
Resultado aumenta chance de início da queda dos juros em agosto
Puxada por carros, combustíveis e alimentos, a economia brasileira registrou deflação de 0,08% em junho, o maior recuo para o mês desde 2017, de acordo com os dados divulgados ontem pelo IBGE. Com o resultado, a taxa acumulada nos últimos 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 3,94%, até maio, para 3,16% -- abaixo, portanto, da meta fixada para o ano, de 3,25%.
O resultado do IPCA de junho reforçou a expectativa de analistas do mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve iniciar a redução da Selic já na reunião marcada para o início de agosto. As projeções até aqui apontam para um corte de 0,25 ponto porcentual, o que derrubaria a taxa básica de juros dos atuais 13,75% para 13,5%.
Também fez aumentar as pressões do governo sobre o presidente do BC, Roberto Campos Neto. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o resultado “era esperado” e que aguarda “mais boas notícias” em agosto, referindo-se à reunião do Copom.
O governo teve influência direta no resultado do IPCA de junho. Com o lançamento do pacote de descontos para veículos de até R$ 120 mil, o preço do carro novo recuou 2,76%, sendo o item de maior contribuição negativa no IPCA do mês. Isso impactou ainda os preços dos automóveis usados, que caíram 0,93% no mês.
Em outra ponta, a ajuda veio dos cortes nos preços dos combustíveis nas refinarias promovidos pela Petrobras: em junho, houve quedas no óleo diesel (-6,68%), etanol (-5,11%), gás veicular (-2,77%) e gasolina (-1,14%).
Os alimentos foram outro grupo de produtos com queda de preços em junho, graças à safra recorde de grãos e à queda nas cotações internacionais de alguns produtos. Contribuíram para isso as reduções nos preços do óleo de soja (-8,96%), frutas (-3,38%), leite longa vida (-2,68%) e carnes (-2,10%).
A valorização do real frente ao dólar pesou a favor dos preços de bens industriais que usam insumos importados e de alguns alimentos cotados em dólar. “A queda em alguns itens eletrônicos e eletrodomésticos pode ter algum tipo de relação, sim (com a desvalorização do dólar)”, disse André Almeida, analista do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
O “real mais forte” também foi citado pelo diretor de pesquisas macroeconômicas do Goldman Sachs, Alberto Ramos, como um dos fatores que devem “sustentar uma inflexão da política monetária na reunião (do Copom) em agosto”.
A isso, somam-se “os preços das commodities contidos, os preços dos alimentos mais baixos, a deflação dos preços no atacado, a melhora das expectativas de inflação e a baixa moderada da inflação passada”, disse Ramos, em relatório. (Estadão Conteúdo, Agência Brasil e Redação)