Deflação no IPCA-15 reforça aposta de corte na taxa de juros
Influenciado principalmente pela queda no preço da energia elétrica, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou deflação de 0,07% em julho, a primeira desde setembro do ano passado e a menor variação no mês desde 2017. O resultado deve dar munição para o governo e o setor produtivo aumentarem a pressão por um corte dos juros às vésperas da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central -- que vai se reunir na próxima semana.
O IPCA-15 é considerado uma prévia da inflação no mês. A deflação de 0,07% veio melhor do que a mediana das estimativas de analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que era de queda de 0,03%. No acumulado dos 12 meses, o índice apresenta alta de 3,19%, ante 3,4% até junho.
Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, os gastos das famílias caíram 0,94%, o que representou uma contribuição negativa de 0,14 ponto porcentual para o IPCA-15. O destaque nesse grupo foi a energia elétrica residencial, que recuou 3,45% com o repasse para os consumidores do chamado “Bônus de Itaipu” (saldo positivo na Conta Comercialização da Energia Elétrica da usina hidrelétrica de Itaipu).
Os preços de alimentação e de bebidas também caíram na leitura prévia de julho (-0,4%), após queda de 0,51% em junho. O grupo deu contribuição de 0,09 ponto porcentual para o IPCA-15. Entre os componentes do grupo, a alimentação no domicílio teve queda de 0,72% em julho, após recuo de 0,81% no mês anterior. No topo da lista, está o feijão carioca, com queda de 10,2% nos preços em julho ante junho, seguido por óleo de soja (-6,14%), leite longa-vida (-2,5%) e carnes (-2,42%). A batata inglesa e o alho registraram aumento de 10,25% e de 3,74%, respectivamente.
Já o custo da alimentação fora de casa acelerou o ritmo de alta e chegou a 0,46% em julho, após encarecer 0,29% em junho, devido ao aumento mais intenso de itens como lanches (de 0,34%, em junho, para 1,02% em julho).
Os analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem que o cenário mais provável na reunião da próxima semana do Copom é de uma queda de 0,25 ponto porcentual da Selic -- para 13,50%. Eles descartam um corte maior da Selic.
“Temos visto esses bons sinais de desinflação, mas, à frente, alguns vetores podem preocupar, como o El Niño, que pode afetar a inflação de alimentos. Além disso, o preço internacional do petróleo não está caindo como antes, então, não devemos ter essa ajuda no segundo semestre”, disse o economista do Rabobank Renan Alves.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, também aposta numa postura mais cautelosa do Copom, apesar do recuo mais forte do que o esperado do IPCA-15 de julho -- que, segundo ele, mostrou uma inflação “menos espalhada sobre a economia”.
Para o diretor de Pesquisa Macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, a queda do IPCA-15 de julho reforça o corte de “ao menos” 0,25 ponto na taxa Selic. (Estadão Conteúdo)