Pandemia e guerra mudaram maioria das empresas

Levantamento indica que houve busca de novos fornecedores e outras medidas para contornar rupturas

Por Cruzeiro do Sul

Indústrias tomaram medidas alternativas à dependência de componentes chineses

As turbulências dos últimos três anos, marcados pela pandemia e a guerra na Ucrânia, além de outros contratempos entre os dois megaeventos, levaram a mudanças que se tornaram permanentes nas relações das empresas com o exterior. Um levantamento feito pela escola de negócios IBS Americas com mais de 4 mil empresas de 86 países mostra que apenas 11% delas reverteram as medidas adotadas frente aos choques desse período.

Mais da metade (58%) reverteu apenas em parte essas medidas, e em 31% todas as medidas implementadas nos últimos anos continuam valendo. As indústrias buscaram novos fornecedores, dentro ou fora de seus países, assim como internalizaram a produção de insumos para contornar as rupturas nas cadeias de manufatura e a escalada nos preços das matérias-primas. Segundo o estudo, ações inicialmente emergenciais tornaram-se permanentes após a pandemia, o que levou a uma mudança estrutural não apenas dentro das empresas, mas também nas relações econômicas internacionais

A pesquisa foi conduzida pela IBS Americas em maio e junho, com o apoio da Fundação Instituto de Administração (FIA) e oito universidades internacionais, entre elas, a State University of New York.

Conforme o levantamento, 35% das empresas informaram que reduziram as compras ou deixaram de importar da China. Já a Rússia, em guerra com a Ucrânia, perdeu espaço nas importações de 11% das empresas que participaram da pesquisa, num resultado considerado significativo pelos pesquisadores, já que as exportações russas não estão entre as dez maiores do mundo.

Por outro lado, no movimento de substituição de fornecedores, a própria China tornou-se uma nova fonte de suprimento para 16% das empresas, enquanto outras 8% passaram a importar dos Estados Unidos. O Brasil também aparece nessa lista, já que passou a atender 5% das empresas do levantamento.

Segundo observa na introdução do estudo o professor da IBS, Ricardo Britto, também coordenador da pesquisa, a globalização deixou de existir já há cinco anos dentro do conceito de crescente interdependência econômica e social entre países, como definiu Joseph Stiglitz, premiado em 2001 com o Nobel de Economia.

“Gestores de todo o mundo se defrontam agora com a necessidade de revisar inúmeras decisões, reestruturar equipes, redes de suprimentos e mais um grande leque de ações essenciais para o sucesso de suas empresas”, afirma o professor da IBS Americas.

Ele frisa que os últimos cinco anos representaram o período mais turbulento para as empresas desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Além da crise sanitária e da guerra na Ucrânia, lembra o pesquisador, a escalada das tensões na geopolítica resultou em guerra tarifária e sanções econômicas. Em paralelo, acrescenta, a Inteligência Artificial (IA) abriu perspectivas de transformações profundas na forma como as empresas gerenciam seus processos produtivos. (Estadão Conteúdo)