Rotativo do cartão de crédito vai acabar, diz Campos Neto

Juros são de 437,3% ao ano. Dívida iria para o parcelado, ao redor de 9% ao mês

Por Cruzeiro do Sul

Solução será encaminhada em 90 dias, disse presidente do BC

Enquanto o Congresso debate a criação de um teto de juros para o rotativo do cartão de crédito, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a modalidade deve deixar de existir. Ele destacou que o grupo de trabalho -- formado pelo BC, governo e bancos -- deve encaminhar nos próximos 90 dias uma solução com o fim do rotativo.

“Sem rotativo, a fatura não paga iria direto para o parcelado. Deve ser anunciado nas próximas semanas”, afirmou o presidente do BC, em arguição pública no plenário do Senado. “Deveríamos ter feito antes medidas para solucionar rotativo”, admitiu.

Os juros no rotativo do cartão chegaram a 437,3% ao ano em junho. A modalidade de crédito é aquela contratada pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão e dura 30 dias. Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a dívida.

“Ou seja, extingue-se o rotativo, quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9%. E que a gente crie algum tipo de tarifa para desincentivar esse parcelamento sem juros tão longos. Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que eles fiquem um pouco mais disciplinados, numa forma bem faseada, para não afetar o consumo”, disse Campos Neto.

Uma das situações que faz os juros do cartão serem tão altos, segundo o presidente do BC, é a grande utilização do parcelamento de compras por prazos mais longos. Isso aumenta o risco do crédito para as instituições financeiras e, consequentemente, os juros.

“A gente tem um parcelado sem juros, que ajuda muito o comércio, que ajuda muito a atividade, mas que tem aumentado muito o número de parcelas, de três para cinco, para sete, para nove, para onze. Hoje, o prazo médio são 13 parcelas. Então, é como se fizessem um financiamento de longo prazo sem juros. A pessoa que toma a decisão de dar os juros não é a mesma que paga pelo risco, isso gera uma assimetria”, explicou Campos Neto.

De acordo com o presidente do BC, a intenção é fazer uma queda de juros estruturada. “Mas é preciso fazer isso com credibilidade. Às vezes os critérios técnicos se distanciam dos anseios (políticos)”, afirmou.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma queda de 0,50 ponto porcentual dos juros básicos, para 13,25% ao ano, o que surpreendeu uma parte do mercado, que apostava majoritariamente em uma queda mais “parcimoniosa”, de 0,25 ponto. O colegiado sinalizou ainda a manutenção do ritmo de cortes nas próximas reuniões.

Febraban

Em resposta às declarações do presidente do BC, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse ontem que trabalha por uma solução que “pode incluir o fim do crédito rotativo e um redesenho das compras parceladas no cartão”. A entidade também afirmou que “deve haver o reequilíbrio” no sistema de parcelamento das compras no País.

Segundo a entidade, “deve haver o reequilíbrio da grande distorção que só o Brasil tem, com 75% das compras feitas com parcelado sem juros”. “Com base nessas premissas, a Febraban busca uma solução construtiva que passe por uma transição sem rupturas”, afirma a federação.

Entidades do varejo temem que uma mudança radical nas regras do parcelamento possa desestimular o consumidor e afetar o volume atual vendas. (Estadão Conteúdo e Agência Brasil)