Cenário indica caminho mais difícil para o BC
O caminho do Banco Central está mais difícil do que o mercado financeiro levava a crer há algumas semanas. A ata da última reunião do Copom reforçou o cenário de que a autoridade monetária não deve acelerar o ritmo de corte da Selic.
O roteiro a ser seguido nas reuniões de novembro e dezembro parece desenhado: cortes de 0,5 ponto porcentual na taxa básica em cada encontro, levando a Selic para 11,75% ao fim deste ano.
As últimas projeções do mercado mostram que o Banco Central assumiria riscos ao dar um passo maior no corte de juros. No relatório Focus, as previsões de inflação para os próximos três anos estão acima da meta. Elas até recuaram em relação ao momento de maior incerteza dos investidores com o governo Lula, mas essa queda não ocorre mais.
Para 2024 e 2025, por exemplo, as previsões para o IPCA estão estacionadas em 3,86% e 3,50%, respectivamente. O centro da meta (que deve ser perseguido pela autoridade monetária) é de 3%.
As projeções e os dados recentes de inflação contam apenas parte desse caminho que deve ser mais difícil para o BC. No exterior, o preço do petróleo voltou a subir e existe uma incerteza em relação ao nível das taxas de juros nos Estados Unidos. Não está descartada a possibilidade de uma nova alta pelo Federal Reserve, o que pode obrigar o BC brasileiro a manter os juros mais altos para evitar um diferencial muito baixo com a principal economia do mundo.
No campo doméstico, a dúvida é se a equipe econômica vai ser capaz de entregar os resultados fiscais prometidos. A ata do BC destacou a “importância da firme persecução dessas metas”. O governo promete um primário zero no ano que vem, mas depende do Congresso para conseguir ampliar as receitas em R$ 168,5 bilhões e alcançar esse número.
Com um cenário certo de frustração de receita, o mercado não acredita no cumprimento da meta fiscal. Há, no entanto, sinais de esforço da equipe econômica para tentar reduzir ao máximo o déficit das contas públicas. (Estadão Conteúdo)