BC monitora efeitos da seca, que elevam preço de alimentos

Campos Neto falou ainda sobre endividamento com as apostas esportivas

Por Cruzeiro do Sul

Presidente do BC termina o mandato em dezembro de 2024

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse ontem (24) que as regiões do Brasil mais afetadas pela seca são justamente as mais intensas em produção de comida. Com isso, ele disse que há “certa preocupação” com os preços de alimentos, e que a estiagem tem sido observada com atenção. A alta no valor de alimentos afeta diretamente a inflação.

Durante palestra em conferência do banco Safra, Campos Neto reforçou algumas mensagens da ata da última reunião do Copom, como, por exemplo, a leitura de que a economia cresce acima do potencial, o chamado hiato positivo. “O que parece mais evidente é que o Brasil está crescendo acima do potencial na margem”, declarou o banqueiro central, ao falar sobre a revisão do hiato

Segundo ele, não há certeza sobre a influência da mão de obra apertada na inflação, cujo comportamento incomoda a autoridade monetária, mas há indícios de que é um fator mais restritivo. Campos Neto citou ainda a apreensão do mercado sobre a política fiscal, não apenas sobre a trajetória da dívida pública, mas também em relação à transparência dos números das contas públicas, levando a aumento dos prêmios de risco na curva de juros. Em todos os momentos em que o Brasil produziu choques fiscais positivos, ressaltou, os juros caíram.

Campos Neto disse que há percepção de alguma piora “na ponta” no mercado de crédito do País, especialmente entre a população de renda mais baixa. Em um âmbito mais amplo, porém, a avaliação do presidente do BC é que o mercado de crédito se mostrou mais forte do que o inicialmente esperado neste ano.

“Quando a gente olha a baixa renda na ponta, tem um pouquinho de piora”, disse Campos Neto, que, em seguida, traçou uma possível correlação entre esse cenário e o mercado das “bets”, as apostas esportivas on-line, no País. “É um tema muito relevante e que tem sido falado sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse Campos Neto, citando que já há estudos indicando, por exemplo, que uma parcela considerável de pessoas beneficiárias do Bolsa Família estão colocando o dinheiro nas bets.

O presidente do BC afirmou ainda que a instituição tem trabalhado junto a outros bancos centrais para viabilizar pagamentos transfronteiriços. Esse trabalho, explicou, se insere na agenda de inovação do BC, que começou com outras duas barreiras anteriores, que já foram superadas: a tecnológica e a de liquidação. (Estadão Conteúdo)