Rússia ataca Kiev e fala em ocupar cidades ucranianas

Russos iniciaram um bombardeio a áreas civis de Kiev e admitiram, pela primeira vez, a possibilidade de ocupar as cidades ucranianas

Por Cruzeiro do Sul

Bombeiros controlam um incêndio em um prédio residencial de 16 andares em Kiev, capital da Ucrânia, nesta terça-feira (15)

Rússia e Ucrânia mantiveram nesta segunda, 14, um frágil caminho diplomático aberto, apesar da falta de avanços na quarta rodada de negociações entre os dois países. Diante do impasse, os russos iniciaram um bombardeio a áreas civis de Kiev e admitiram, pela primeira vez, a possibilidade de ocupar as cidades ucranianas.

"O Ministério da Defesa, para garantir a máxima segurança da população civil, não descarta a possibilidade de tomar o controle total das principais cidades que já estão cercadas", disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, contrariando declarações anteriores de que o país não tinha interesse em permanecer no território vizinho.

Ontem, as últimas negociações, realizadas por videoconferência, terminaram novamente sem avanço. Mikhailo Podoliak, um dos conselheiros do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, afirmou que o diálogo teve uma "pausa técnica", mas uma nova reunião será realizada nesta terça, 15.

Autoridades ucranianas querem uma trégua imediata e a retirada das tropas russas. As últimas discussões, no entanto, acabaram se concentrando em questões humanitárias para abastecer vilas e cidades sitiadas pela Rússia. Ontem, um comboio de 160 carros civis deixou a cidade de Mariupol, em raro momento de esperança após uma semana e meia de um cerco que deixou moradores desesperados por comida, água e remédios.

Bombardeios

Se algumas pessoas conseguiram sair, porém, o governo ucraniano afirmou que um comboio humanitário não conseguiu entrar em Mariupol. O carregamento de suprimentos permanece parado a 60 quilômetros da cidade.

Mostrando como a situação pode se deteriorar rapidamente nas cidades, de acordo com autoridades ucranianas, duas pessoas morreram em um ataque contra a fábrica de aviões Antonov - a maior da Ucrânia - e um edifício residencial ao norte de Kiev. Desde que a invasão começou, em 24 de fevereiro, segundo o governo da Ucrânia, 90 crianças morreram e mais de 100 ficaram feridas

A CNN, citando um alto funcionário do Pentágono, informou ontem que as forças russas permaneceram estagnadas na Ucrânia. As tropas que se deslocam para Kiev não progrediram no fim de semana e quase todas as grandes cidades do país ainda são controladas pelos ucranianos, segundo os militares americanos.

Pela primeira vez, um dos aliados do presidente russo, Vladimir Putin, admitiu que a operação militar na Ucrânia está mais lenta do que o esperado. De acordo com o chefe da guarda nacional russa, Viktor Zolotov, o motivo é o fato de forças de extrema direita da Ucrânia estarem se escondendo atrás de civis.

A Rússia continuou ontem os ataques contra cidades ucranianas, um dia depois destruir a base de Yavoriv, a 25 quilômetros da fronteira com a Polônia, levando a guerra perigosamente perto de um país-membro da Otan - 35 pessoas morreram.

O local era usado como centro de treinamento de soldados estrangeiros. No sábado, Putin havia declarado que comboios de armas ou mercenários a serviço da Ucrânia seriam alvos legítimos da Rússia. Mas, segundo os EUA, o ataque à base não afetou a distribuição de equipamento militar para a Ucrânia.

Tribunais

Além do impasse diplomático, da falta de avanço militar e das sanções econômicas, a situação russa pode se complicar também nos tribunais internacionais. Ontem, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) anunciou que analisará amanhã um parecer para o caso apresentado pelo governo ucraniano, de que a Rússia utilizou falsas acusações de genocídio contra a Ucrânia para justificar a invasão. O caso é diferente da investigação de crimes de guerra na Ucrânia aberta pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que julga indivíduos - diferentemente da CIJ, que julga Estados. (Estadão Conteúdo com agências internacionais)