Paleontólogos encontram fóssil de dinossauro mais antigo da África

A descoberta foi publicada nesta quarta-feira (31), na revista científica Nature

Por Cruzeiro do Sul

Uma equipe internacional de paleontólogos liderada pelo Instituto Politécnico e a Universidade Estadual da Virgínia (EUA), com participação de um cientista brasileiro, encontrou na região norte do Zimbábue um fóssil de dinossauro que está entre os mais antigos já vistos pelo mundo.

Em escavações que ocorreram de 2017 a 2019, o dinossauro que recebeu o nome de Mbiresaurus raathi, chamou a atenção por seu estado de preservação. Segundo os cientistas, ele é tão antigo quanto os mais antigos já encontrados, que tem cerca de 230 milhões de anos. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira (31), na revista científica Nature.

Trata-se de um sauropodomorfo (um dinossauro de pescoço comprido), com cerca de 1,83 m de comprimento e uma cauda longa. O esqueleto do mais antigo dinossauro já encontrado na África encontra-se quase completo, faltando apenas algumas partes do crânio e de uma pata dianteira.

Segundo os cientistas, a descoberta preenche uma lacuna geográfica nos registros dos dinossauros mais antigos. "Os primeiros dinossauros, como o Mbiresaurus raathi, mostram que a evolução dos dinossauros ainda está sendo escrita a cada nova descoberta e que a sua ascensão foi muito mais complexa do que o previsto anteriormente", diz Sterling Nesbitt, um dos autores do estudo.

O grupo de pesquisadores tem agora uma nova teoria sobre o processo de dispersão dos dinossauros pelo mundo, que apoia a hipótese de que os primeiros dinossauros foram condicionados pelo clima a habitar apenas algumas áreas do planeta.

Os cientistas acreditam que quando o supercontinente Pangeia ainda não tinha se separado, o clima era dividido em zonas mais temperadas nas latitudes mais altas e desertos nos trópicos inferiores. Essa divisão influenciaria a distribuição dos animais pelo continente, o que significaria que a dispersão dos dinossauros foi condicionada pela latitude - eles estariam restritos ao sul da Pangeia, a aproximadamente 50º de latitude. Com a separação continental, teriam se dispersado pelo mundo pelo restante do Período Triássico, de acordo com a equipe.

Para reforçar essa afirmação, eles combinaram dados geoquímicos e fósseis em conjunto com informações sobre a genealogia dos animais. Como os dinossauros mais antigos (com cerca de 230 milhões de anos) foram encontrados em áreas da Argentina, Brasil e Índia, o grupo de pesquisadores procurou propositalmente no Zimbábue, cujo norte também fica no mesmo cinturão climático, preenchendo a lacuna geográfica entre o Sul do Brasil e a Índia.

Segundo os pesquisadores, o Mbiresaurus se locomovia apoiado nas patas traseiras e tinha uma cabeça relativamente pequena. Seus dentes são pequenos, serrilhados e em forma de triângulo, o que sugere que ele era herbívoro ou onívoro. O nome escolhido para o fóssil une "Mbire", nome do distrito onde o animal foi encontrado e de uma dinastia Shona que historicamente governou a região, e "raathi", uma homenagem ao paleontólogo Michael Raath, o primeiro a encontrar fósseis no norte do Zimbábue.

"Nunca esperamos encontrar um esqueleto de dinossauro tão completo e bem preservado", disse Christopher Griffin, outro autor do estudo publicado na Nature. "Quando encontrei o fêmur do Mbiresaurus, imediatamente o reconheci como pertencente a um dinossauro e sabia que estava segurando o dinossauro mais antigo já encontrado na África. Quando continuei cavando e encontrei o osso do quadril esquerdo ao lado do osso da coxa esquerda, tive de parar e respirar; eu sabia que muito do esqueleto provavelmente estava lá, ainda articulado em posição de vida", relata.

A equipe internacional envolvida na descoberta contou com paleontólogos dos Museus e Monumentos Nacionais do Zimbábue, do Museu de História Natural do Zimbábue e da Universidade de São Paulo (USP). Ao lado do esqueleto do sauropodomorfo, foram achados outros fósseis do mesmo período, a idade Carniana do período Triássico Superior. Os cientistas citam um dinossauro herrerassaurídeo (um dos primeiros carnívoros); parentes de crocodilos e parentes de mamíferos primitivos, os cinodontes.

Grande parte do esqueleto do Mbiresaurus está sendo mantida na Universidade Estadual da Virgínia enquanto é limpo e estudado. Depois, ele e os outros fósseis encontrados ficarão permanentemente no Museu de História Natural do Zimbábue, em Bulawayo. Segundo Michel Zondo, curador e preparador de fósseis do museu, trata-se da primeira descoberta de um sauropodomorfo desse tamanho no país, que já registrou fósseis de médio a grande porte. "O fato de o esqueleto do Mbiresaurus estar quase completo o torna um material de referência perfeito para novas descobertas", completa.

Darlington Munyikwa, vice-diretor executivo dos Museus e Monumentos Nacionais do Zimbábue, acrescenta: "uma série de sítios de fósseis que aguardam exploração futura foram registrados, destacando o potencial da área para contribuir com mais materiais científicos valiosos."

(Estadão Conteúdo)