Terremoto pressiona ONGs e países ocidentais a ajudarem Síria

O terremoto deixou mais de 1.600 mortos no País, e o balanço de vítimas não para de aumentar

Por Cruzeiro do Sul

EDITORS NOTE: Graphic content / Rescue teams search for victims and survivors stuck under the rubble of collaped buildings in the government-held northern Syrian city of Aleppo on February 7, 2023, following a deadly earthquake that hit the region the previous day. - The 7.8 magnitude quake struck near the Turkish city of Gaziantep before dawn, killing more than 2,300 people in Turkey and more than 1,400 in neighbouring Syria. (Photo by LOUAI BESHARA / AFP)

O terremoto na Turquia e na Síria aumenta a pressão sobre organizações humanitárias e países ocidentais para que ajudem a população síria, especialmente na zona rebelde de Idlib, no norte do país. Horas depois do tremor mortal de segunda-feira (6), a comunidade internacional se mobilizou pela Turquia, enviando rapidamente ajuda de emergência. Países como França, Alemanha e Estados Unidos também prometeram ajudar as vítimas sírias, mas sem enviar ajuda imediata.

"A Síria continua sendo uma área sombria, do ponto de vista legal e diplomático", avalia o diretor do programa para a Síria da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), Marc Schakal, pedindo que a ajuda seja enviada "o mais rápido possível". Schakal teme que ONGs locais e internacionais se vejam sobrecarregadas em um país devastado por quase 12 anos de guerra civil que opõe uma multidão de lados – forças governamentais, rebeldes, jihadistas e curdos, entre outros – e tropas de vários países estrangeiros estão mobilizadas.

O terremoto deixou mais de 1.600 mortos na Síria, e o balanço de vítimas não para de aumentar. A ajuda é crucial, porque "a situação da população já era dramática", afirma o professor Raphaël Pitti, responsável pela ONG francesa Mehad, especialmente preocupado com a província de Idlib.

Um dos principais problemas é o acesso a este último reduto controlado por rebeldes e jihadistas, onde vivem 4,8 milhões de pessoas, explica o especialista. Além disso, o governo de Bashar al-Assad está isolado internacionalmente e sujeito a inúmeras sanções.

Pontos de acesso 

Quase toda a ajuda humanitária que chega a esta região da Turquia passa por Bab al-Hawa, o único ponto de acesso, obtido por meio de uma resolução da ONU. Enviar ajuda através do território sírio controlado por Damasco seria diplomaticamente difícil. Significaria também que o governo oficial concorda em dar essa ajuda à população das áreas rebeldes e que os beligerantes concordam em sua distribuição.

Outro elemento complicador é que a passagem de Bab al-Hawa foi afetada pelo terremoto, disse a ONU, nesta terça. Após a tragédia, o governo sírio, alvo de sanções internacionais desde o início da guerra em 2011, pediu o envio de ajuda aos demais países da comunidade internacional.

O embaixador da Síria na ONU, Bassam Sabbagh, garantiu na segunda-feira que esta ajuda será "para todos os sírios em todo o território". Impôs, no entanto, uma condição: que essa ajuda fosse distribuída de dentro do país, sob controle do governo.

"Os acessos a partir da Síria existem. Podem ser coordenados com o governo, e estamos dispostos a fazer isso", disse o diplomata, rejeitando a possibilidade de levar a ajuda através de acessos transfronteiriços.

"Canais habituais" 

A França mantém suas reservas, enquanto a Alemanha pediu a abertura de outros pontos de acesso.

"Todos os atores internacionais, incluindo a Rússia, deveriam aproveitar sua influência sobre o 'regime' sírio para que chegue a ajuda humanitária destinada às vítimas", afirmou a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.

A França pode estar menos presente do que "em outras crises", na medida em que é "incômodo" ir a um país, cuja legitimidade desconhece, avalia Emmanuel Dupuy, presidente do Instituto de Prospecção e Segurança. Para Raphaël Pitti, as áreas sob domínio de Damasco provavelmente receberão ajuda internacional. "Como sempre aconteceu há dez anos", ressalta.

O professor teme, contudo, que a população de Idlib, onde vivem "2,8 milhões de refugiados", fique para trás, especialmente porque as autoridades turcas já estão sobrecarregadas com suas próprias áreas devastadas pelo terremoto.

Hoje, a comunidade católica de Santo Egídio, com sede em Roma, fez um apelo pela suspensão das sanções, uma convocação reforçada pelo Crescente Vermelho.

Já o porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, Jens Laerke, afirmou que é "imperativo" que todo o mundo considere a situação como "uma crise humanitária, em que há vidas em jogo". "Por favor, não politizem isso", pediu. (AFP)