Rússia ataca Ucrânia, deixa 13 mortos e Zelenski promete resposta
Autoridades e analistas ucranianos alegam que os ataques fazem parte de uma estratégia de intimidação deliberada do Kremlin
A Rússia disparou mais de 20 mísseis de cruzeiro e dois drones contra a Ucrânia na madrugada desta sexta-feira (28), matando pelo menos 13 pessoas. Os ataques ocorreram em Kiev, Dnipro, Kramatorsk, Uman e outras cidades. Segundo o governo ucraniano, a Força Aérea conseguiu interceptar outros 11 mísseis. O presidente Volodmir Zelenski prometeu uma resposta ao "terror russo."
O bombardeio mais grave ocorreu em Uman, uma cidade localizada a cerca de 215 km ao sul de Kiev. Dez pessoas morreram nesse ataque, segundo o ministro ucraniano dos Assuntos Internos, Ihor Klimenko. A polícia nacional ucraniana informou que 17 pessoas ficaram feridas e três crianças foram resgatadas dos escombros.
O bombardeio não se situou nem perto das extensas linhas da frente da guerra, nem das zonas de combate ativas no leste da Ucrânia, onde se instalou uma guerra de desgaste. Moscou tem lançado frequentemente ataques com mísseis de longo alcance durante os 14 meses de guerra, muitas vezes atingindo indiscriminadamente zonas civis.
Intimidação russa
Autoridades e analistas ucranianos alegam que os ataques fazem parte de uma estratégia de intimidação deliberada do Kremlin. A Rússia nega que os seus objetivos militares visem alvos civis.
Os sobreviventes dos ataques de Uman contaram momentos aterradores quando os mísseis atingiram o local quando ainda estava escuro. "Todos os vidros voaram, tudo voou, até o candelabro caiu. Estava tudo coberto de vidro", disse Olha Turina, residente no local, à Associated Press. "Depois houve uma explosão. Mal encontramos as nossas coisas e saímos correndo", disse ela.
Turina, cujo marido está a combater na linha da frente, disse que um dos colegas de turma do seu filho estava desaparecido. "Não sei onde eles estão, não sei se estão vivos", disse ela. "Não sei porque é que temos de passar por tudo isto. Nunca incomodamos ninguém."
Uma das dez pessoas mortas no ataque em Uman era uma idosa de 75 anos que estava no seu apartamento num edifício vizinho e sofreu hemorragias internas devido à onda de choque da explosão, segundo o pessoal de emergência no local.
Três sacos para cadáveres jaziam ao lado do edifício, enquanto a fumaça continuava a se espalhar horas depois do ataque. Soldados, civis e equipas de emergência procuravam mais vítimas entre os escombros, enquanto os residentes arrastavam os seus pertences para fora do edifício danificado.
Estado de choque
Uma mulher, chorando em estado de choque, foi levada pelas equipas de salvamento para pedir ajuda. Uma mulher de 31 anos e a sua filha de 2 anos foram também mortas na cidade de Dnipro, no leste do país, num outro ataque, informou o governador regional Serhii Lysak. Quatro pessoas ficaram também feridas e uma casa e um estabelecimento comercial ficaram danificados.
Em Kiev, fragmentos de mísseis ou drones interceptados danificaram linhas elétricas e uma estrada num bairro. Não foram registradas vítimas.
O sistema antiaéreo da cidade foi ativado, conforme a Administração Municipal de Kiev. As sirenes de ataque aéreo começaram a tocar por volta das 4 da manhã e o alerta terminou cerca de duas horas depois. O ataque foi o primeiro na capital desde 9 de março.
Os mísseis foram disparados por aviões que operam na região do Mar Cáspio, segundo o Comandante em Chefe das Forças Armadas Ucranianas, Valerii Zaluzhnyi. No total, disse, a Ucrânia interceptou 21 dos 23 mísseis de cruzeiro do tipo Kh-101 e Kh-555 lançados, bem como os dois drones.
O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, afirmou que os ataques aproximam a Rússia do "fracasso e do castigo" e prometeu uma resposta ao "terror russo". "Cada ataque deste tipo, cada ato maléfico contra o nosso país e o nosso povo aproxima o Estado terrorista do fracasso e do castigo", disse Zelenski no Telegram.
Ajuda da Otan
Os ataques ocorreram no momento em que a Otan anunciou que os seus aliados e países parceiros entregaram mais de 98% dos veículos de combate prometidos à Ucrânia durante a invasão e a guerra da Rússia, reforçando as capacidades de Kiev, que tenciona lançar uma contraofensiva.
Juntamente com mais de 1.550 veículos blindados, 230 tanques e outros equipamentos, os aliados da Ucrânia enviaram "grandes quantidades de munições" e treinaram e equiparam mais de nove novas brigadas ucranianas, disse o Secretário-Geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Alguns países parceiros da Otan, como a Suécia e a Austrália, também forneceram veículos blindados.
Zelenski, afirmou que a sua primeira ligação com o líder chinês, Xi Jinping, desde a invasão russa, há mais de um ano, foi "longa e significativa". Embora Zelenski se tenha declarado encorajado pelo telefonema desta quarta-feira, 25, e os funcionários ocidentais tenham saudado a iniciativa de Xi, esta não parece ter melhorado as perspectivas de paz.
A Rússia e a Ucrânia estão muito distantes nas condições de paz, e Pequim - enquanto procura posicionar-se como uma potência diplomática global - recusou-se a criticar a invasão de Moscou. O governo chinês vê a Rússia como um aliado diplomático na oposição à influência dos EUA nos assuntos mundiais, e Xi visitou Moscou no mês passado. (Estadão Conteúdo com agências internacionais)