Paraguai quer que Brasil veja país como 'plataforma de produção'

Presidente eleito, Santiago Peña, disse que há muito espaço para que empresas do Brasil produzam a partir do Paraguai, com foco em substituir compras da Ásia

Por Cruzeiro do Sul

Santiago Peña, presidente eleito do Paraguai

O presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, destacou nesta quarta-feira (7) o potencial de seu país para atrair empresas do Brasil. Durante evento virtual do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Peña argumentou que não estava falando de fechar fábricas no País para levá-las ao Paraguai, em busca de custos mais baixos, mas sim de buscar um maior "encadeamento produtivo" entre as duas nações. "O Brasil não deve pensar no Paraguai como concorrência, mas como uma complementação", disse.

Peña, que assume o poder em 15 de agosto, disse que há muito espaço para que empresas do Brasil produzam a partir do Paraguai, com foco por exemplo em substituir compras de Ásia. O investidor "pode ver o Paraguai como destino e uma plataforma de produção", assegurou.

Segundo o presidente eleito, o Paraguai precisa aproveitar aspectos positivos, como ser a população mais jovem da América do Sul, o que lhe dá um "bônus demográfico". Peña também disse ter "enorme otimismo" com a vizinhança, que para ele é "uma grande oportunidade para que o Paraguai possa se desenvolver".

Ainda para o presidente eleito do país vizinho, a presença de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência do Brasil é "uma grande oportunidade para o processo de integração". Membro do conservador Partido Colorado, ele defendeu uma maior integração econômica e também política na região. Como exemplo, notou o fato de que o Brasil retomou relações diplomáticas com a Venezuela. Peña disse que é favorável a aproximações políticas, mesmo que tenha diferenças com alguns governos, com o argumento de que as relações entre Estados precisam e devem ser preservadas.

Itaipu

Santiago Peña considerou que a negociação sobre a hidrelétrica de Itaipu é "chave para o desenvolvimento" de seu país. Durante evento virtual do Cebri, porém, ele não detalhou os próximos passos que pretende dar para tentar avançar no tema.

Peña destacou o tamanho do projeto binacional, ainda a maior hidrelétrica do mundo. Em visita em maio ao País, ele conversou com o presidente Lula e declarou interesse em rever os termos do tratado bilateral que rege Itaipu.

O presidente eleito do Paraguai disse ter um "sentimento de admiração" diante do projeto binacional. Segundo ele, o projeto já foi construído e também "pago", agora, a questão é "o que vamos fazer" a partir disso.

Mercosul

Santiago Peña afirmou também que avalia como de "suma importância" a possibilidade de que o Mercosul possa fechar um acordo comercial com a União Europeia. Ele lembrou o fato de que haverá eleições na Espanha, com o candidato favorito, Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular, já tendo declarado apoio ao acordo.

Peña recordou também que, a partir de meados do ano, justamente a Espanha será a presidente de turno da UE, o que pode facilitar a conjunção para avançar nas negociações. Membro do tradicional Partido Colorado, o ex-ministro da Fazenda, que também ocupou cargo na diretoria do BC do país, disse que pretende "ser uma voz muito importante na construção desse consenso" entre os blocos. Peña avaliou que o potencial pacto com a UE traz "elementos concretos para desenvolver os países, reduzir assimetrias". (Estadão Conteúdo)