Países florestais cobram US$ 200 bi de nações ricas para proteger biodiversidade
Os chefes de Estado de países da Amazônia, além de outros países com florestas tropicais, emitiram um comunicado nesta quarta-feira, 9, cobrando financiamento dos países industrializados para medidas de combate às mudanças climáticas e proteção da biodiversidade. Os presidentes e representantes disseram ter preocupação com o não cumprimento de compromissos firmados, e reforçaram a reivindicação de valores que podem chegar a mais de US$ 200 bilhões por ano.
‘Não é o Brasil que precisa de dinheiro, não é a Colômbia, a Venezuela, é a natureza. O desenvolvimento industrial ao longo de 200 anos poluiu e estamos precisando que paguem a sua parte agora para recompor a parte do que foi estragado. A natureza é que está precisando de financiamento‘, disse Lula nesta quarta-feira. O presidente brasileiro disse ainda que ‘medidas protecionistas mal disfarçadas de preocupação ambiental pelos países ricos não são o caminho a trilhar‘.
Integram o documento divulgado nesta quarta a Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Indonésia, Peru, República Democrática do Congo, República do Congo, São Vicente e Granadinas, Suriname e Venezuela, que se reuniram nesta semana em Belém, na Cúpula da Amazônia.
O documento manifesta preocupação com diferentes compromissos assumidos e não cumpridos pelas nações ricas: o financiamento para o desenvolvimento equivalente a 0,7% do rendimento nacional bruto; o financiamento climático de US$ 100 bilhões por ano em recursos novos e adicionais aos países em desenvolvimento; e a contribuição para a mobilização de US$ 200 bilhões por ano, até 2030, previstos pelo Marco Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal.
O comunicado expressa preocupação ainda ‘com o não-cumprimento, por parte de alguns países desenvolvidos, de suas metas de mitigação‘. ‘E relembramos a necessidade dos países desenvolvidos de liderar e acelerar a descarbonização de suas economias, atingindo a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível e preferencialmente antes de 2050‘.
O presidente francês Emmanuel Macron declinou do convite para se juntar a líderes de Estado dos países amazônicos na Cúpula da Amazônia. No entanto, reforçou, em uma rede social, sua posição sobre a conservação da floresta e o estabelecimento de barreiras comerciais que, por exemplo, travam o acordo União Europeia-Mercosul e desagradam ao governo brasileiro.
Responsabilidade
Mais cedo, ao discursar na abertura dos debates com países detentores de florestas tropicais, o presidente Lula falou sobre a responsabilidade dos países desenvolvidos nas mudanças climáticas.
O presidente brasileiro afirmou que recursos prometidos durante a Rio 92 e depois na COP-15 não foram repassados pelos países ricos. Segundo Lula, o montante já não corresponde às necessidades atuais e classificou como ‘inaceitável‘ a falta de espaço dos países detentores de floresta no conselho do Fundo Global para o Meio Ambiente, que ‘são obrigados a dividir uma cadeira‘ enquanto países desenvolvidos têm seu próprio assento.
O presidente afirmou ainda que a Conferência do Clima, que ocorrerá em Belém em 2030, será um divisor de águas, uma vez que os países apresentarão novos compromissos em relação à redução de emissões. (Estadão Conteúdo)