Em meio ao G77, Cuba indica que não pagará dívida com Brasil
Pedido de renegociação e "flexibilidade" aconteceu em conversas informais
O governo de Cuba indicou ao governo brasileiro que não tem condições de pagar a dívida atrasada e vencida de US$ 490 milhões de Havana com Brasília, em atraso desde 2018. No total, a dívida chega a US$ 1,1 bilhão. Os cubanos também esperam “flexibilidade” do governo Lula (PT) para conseguir retomar os pagamentos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Cuba ontem (15), para encontro do G77, uma coalizão de países em desenvolvimento junto com a China.
Além dos encontros multilaterais, Lula também se reunirá com o ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, em um esforço de descongelar as relações com Havana após os governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL).
O pedido de renegociação e flexibilidade aconteceu em conversas políticas informais entre o governo cubano e o brasileiro, mas ainda não há um documento oficial com o pedido, nem houve reunião dos dois lados em nível técnico para poder cobrar, segundo fontes ouvidas pelo Estadão com conhecimento sobre as negociações.
Segundo uma fonte, a determinação do Brasil é de receber os valores e não há discussão sobre moratória ou calote. A intenção de Cuba é renegociar a dívida, até para “sair da situação de default, para poder ter acesso a novos empréstimos, porque países em débito não podem obter novos financiamentos”, disse uma das fontes.
Até o momento, autoridades ligadas à ditadura cubana disseram a representantes brasileiros que Cuba não possui meios para o pagamento das suas obrigações neste momento, e que pretendem renegociar a dívida em reuniões que ainda serão marcadas.
Os atrasos começaram em meados de 2016 e se agravaram a partir de junho de 2018, quando o país caribenho parou de pagar suas parcelas de financiamento às exportações brasileiras junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A maior parte dos recursos emprestados via BNDES foi para financiamento do projeto do Porto de Mariel, que fica a cerca de 40 km de Havana.
O que é o G77
O G77 foi criado em 15 de junho de 1964, durante o período da guerra fria. Na época, o grupo tinha 77 países, mas foi ampliado e conta com nações da Ásia, África e América Latina. A China se juntou ao grupo em 1990 e será representada por Li Xi, membro do comitê permanente do escritório político do Partido Comunista da China.
O grupo alega que a intenção do bloco é promover interesses econômicos coletivos e expandir a capacidade de negociação dos países. Cuba ocupa a presidência rotativa do bloco e o encontro terá o tema “Desafios Atuais do Desenvolvimento: Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação”.
Dezenas de chefes de Estado e de Governo participam do encontro. Além de Lula, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, estarão presentes.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, que inaugura a cúpula de caráter extraordinário ao lado do ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, chegou na quarta-feira (13) à capital cubana. (Estadão Conteúdo)