Referendo na Venezuela deixa a Guiana em alerta
A Guiana está “vigilante” após o referendo que a Venezuela fez no domingo (3) para reforçar sua reivindicação de soberania sobre o território do Essequibo, disse à AFP, ontem (4), o ministro das Relações Exteriores guianense, Hugh Todd.
“Temos que permanecer sempre vigilantes. Embora não acreditemos que ele (Nicolás Maduro) vá ordenar uma invasão, temos que ser realistas sobre o ambiente na Venezuela e o fato de que o presidente pode fazer algo muito imprevisível”, afirmou.
Mais de 95% dos votantes apoiaram a criação de uma província venezuelana no Essequibo, atualmente administrada pela Guiana, e dar nacionalidade a seus 125.000 habitantes.
Todd destacou que a Guiana manterá cooperação em matéria de defesa com os Estados Unidos e outros parceiros e que continuaria os esforços diplomáticos bilaterais e em entidades como a Organização dos Estados Americanos (OEA) para insistir que a disputa centenária entre ambos os países deve ser resolvida na Corte Internacional de Justiça (CIJ). “Já deixamos claro que acataremos a sentença do tribunal”, afirmou Todd.
A Venezuela argumenta que o rio Essequibo é a fronteira natural com a Guiana, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e apela ao Acordo de Genebra, firmado em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabelece as bases para uma solução negociada e anulou um laudo de 1899 que definiu os limites atuais.
Georgetown defende esse laudo e pede que seja ratificado pela CIJ, cuja jurisdição é rejeitada por Caracas.
Mais de 10,4 milhões de eleitores participaram do referendo realizado no domingo, segundo a autoridade eleitoral, depois de uma confusão criada na véspera sobre os números da participação. Inicialmente foi anunciado o número de 10.554.320 votantes, alterado depois para 10.431.907 eleitores.
A divergência sobre este dado gerou suspeitas entre dirigentes da oposição e analistas, que interpretaram um voto para cada pergunta, estimando a participação em cerca de dois milhões. A afirmação se apoiava também na falta de filas na maioria dos centros de votação. (AFP)