Líderes de França e Comissão Europeia se reunirão em meio a protestos agrícolas
O presidente francês, Emmanuel Macron, se reunirá com a titular da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na próxima quinta-feira, 1º, em Bruxelas, para discutir medidas de apoio aos agricultores em meio a protestos na União Europeia e ao acordo comercial com o Mercosul.
‘O presidente expressou, em diversas ocasiões, sua oposição muito clara à conclusão do acordo‘ a Von der Leyen, declarou a Presidência francesa, afirmando que a Comissão ‘entendeu que era impossível fechar‘ um acordo diante das condições atuais.
‘Entendemos que [ele] deu instruções a seus negociadores para que coloquem fim às sessões de negociação que estavam em curso no Brasil e, em particular, a visita que o vice-presidente da Comissão havia previsto em caso de conclusão‘, acrescentou.
O encontro entre Macron e Von de Leyen ocorrerá durante uma cúpula extraordinária sobre a situação orçamentária da UE, ao passo que ambos também abordarão a importação de produtos agrícolas da Ucrânia e a imposição de um pousio aos agricultores.
A Comissão Europeia e o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) negociam um acordo comercial e político desde 1999, mas para assiná-lo, é necessário o aval de todos os Estados-membros do bloco europeu.
Na semana passada, os ministros das Relações Exteriores do bloco sul-americano afirmaram que estariam dispostos a firmar o pacto comercial com a UE o mais rapidamente possível, sugerindo que resolvessem as discrepâncias pendentes após o princípio do acordo alcançado em 2019.
Cerco a Paris
Os agricultores franceses concretizaram a sua ameaça e começaram, nesta segunda-feira, 29, a bloquear várias rodovias em torno de Paris, Montados em tratores, os agricultores querem denunciar a sua situação econômica, em uma luta cada vez mais tensa com o governo.
De norte a sul, de leste a oeste, o trânsito foi afetado em oito rodovias na capital da segunda maior economia da União Europeia (UE), com trechos bloqueados em dezenas de quilômetros de Paris, segundo o site Sytadin.
Os agricultores permanecerão nestas vias dia e noite ‘enquanto for necessário‘, disse Luc Smessaert, vice-presidente do sindicato agropecuário majoritário FNSEA, enquanto outros produtores agrícolas organizam acampamentos improvisados na região de Paris com fardos de palha, cisternas de água e banheiros.
Os agricultores denunciam a queda de receita, as baixas aposentadorias, a complexidade administrativa, a inflação das normas ambientais e a concorrência estrangeira, especialmente o acordo negociado entre a União Europeia e os países do Mercosul.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, anunciou uma série de medidas, como a eliminação do aumento da taxa do diesel para uso não agrícola e a ajuda a setores em crise, mas o setor as considerou insuficientes.
O sindicato agropecuário majoritário, FNSEA, e os Jovens Agricultores convocaram um ‘cerco da capital por tempo ilimitado‘.
‘Aumentamos a pressão porque percebemos que, quando se está longe de Paris, a mensagem não chega‘, disse o líder da FNSEA, Arnaud Rousseau, à rádio RTL.
O ministro da Agricultura, Marc Fesneau, indicou na rede France 2 que novas medidas seriam anunciadas ‘em 48 horas‘.
As autoridades, que até agora evitaram conter os protestos, mobilizaram 15 mil policiais e gendarmes para impedir o bloqueio dos aeroportos parisienses e do importante mercado atacadista de Rungis, a cerca de sete quilômetros da capital, para onde se dirigem os manifestantes.
‘Problemas de custos‘
O setor agrícola é culturalmente importante na sétima economia mundial, embora o seu peso no PIB tenha caído drasticamente de 18,1% em 1949, no período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, para 2,1% em 2022, segundo dados oficiais.
Os agricultores receberam sinais de apoio nos últimos dias. Na manhã desta segunda-feira, a ONG Greenpeace exibiu uma faixa na Pont de la Concorde, em Paris, com o slogan: ‘Apoio aos agricultores. Parem os acordos de livre comércio‘ (em tradução livre).
Embora a exigência de tornar as normas ambientais europeias mais flexíveis, como o menor uso de pesticidas, não seja compartilhada por todos os sindicatos, uma melhor remuneração e o fim das importações são exigências globais, não apenas na França.
‘Não é um problema de preços. Este é um problema de custos [de produção] que nos levam à ruína‘, disse o líder do sindicato agrícola Asaja, Pedro Barato, à rádio espanhola Cope, antecipando protestos na Espanha a partir da próxima semana. (AFP)