Embaixador em Israel é chamado ao Brasil

Por Cruzeiro do Sul

Frederico Meyer (dir.) foi humilhado por Israel Katz com dura reprimenda num memorial do Holocausto

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu convocar ao País para consultas o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer. Ele chega ao Brasil amanhã (21) e passará cerca de dez dias.

A medida é uma resposta ao fato de Israel ter convocado o diplomata para uma reprimenda ao Brasil depois de Lula comparar as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto.

A reação foi calculada pelo governo como forma de expressar insatisfação sobre a maneira com que autoridades israelenses responderam a Lula. A convocação representa mais um gesto duro diplomático na crise, embora seja temporária. O presidente quer se reunir pessoalmente com o embaixador, mas não vai removê-lo do posto, ao menos por enquanto.

A convocação de Meyer foi decidida após uma série de conversas de Lula e alguns ministros e conselheiros mais próximos. Ele se reuniu para avaliar a crise diplomática no Palácio da Alvorada, entre outros, com o ministro Paulo Pimenta (Comunicação Social) e com o assessor especial e ex-chanceler Celso Amorim.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, conversou com o presidente e integrantes do governo por telefone, porque está no Rio de Janeiro, para uma reunião de chanceleres do G20. Coube ao ministro telefonar para o embaixador e dar o recado de que o presidente decidira chamá-lo de volta a Brasília.

Armadilha

O embaixador foi colocado no que integrantes do governo consideraram uma espécie de “armadilha”. Ele não fala nem compreende hebraico, e ficou exposto diante das câmeras, sem poder esboçar reação, enquanto ao seu lado o chanceler israelense, Israel Katz, declarava à imprensa que Lula passava a ser considerado persona non grata no país.

O Itamaraty já estava incomodado com o método da reprimenda escolhido pela chancelaria israelense. Em vez de uma reunião mais reservada na sede do Ministério das Relações Exteriores, como costuma ser o padrão diplomático, o governo de Netanyahu marcou um encontro no Yad Vashem, um memorial do Holocausto. Diplomatas da Secretaria de Estado consideraram que foi montado um “circo” e que o representante do presidente foi “humilhado” com a situação.

No memorial, o embaixador brasileiro ouviu as queixas dos israelenses, voltou a manifestar as preocupações do governo brasileiro, mas não fez comentários a respeito das falas do presidente. Não repassou nenhum recado de mea culpa por parte de Lula, o que já indicava a indisposição do petista de pedir desculpas.

Em privado, diplomatas reconhecem que o presidente exagerou e errou ao fazer a comparação com o Holocausto. No entanto, diplomatas no Itamaraty e assessores palacianos indicavam, ao longo do dia, que Lula relutava em estender um pedido de desculpas, como exigiu em público o governo de Israel.

O entendimento no governo é que Israel estava “instrumentalizando” o caso e havia “escalado” a crise propositalmente, no momento em que carece de apoio internacional e que Netanyahu sofre pressão interna e externa, além de críticas até de governos aliados no Ocidente. (Estadão Conteúdo)