Governo boliviano prende 17 pessoas ligadas à tentativa de golpe de Estado
Entre os presos está o general Juan José Zúñiga, que acusa o presidente de forjar revolta
O governo boliviano anunciou a detenção de 17 pessoas, incluindo militares ativos e reformados, além de vários civis, pela ligação com o fracassado golpe de Estado contra o presidente de esquerda Luis Arce.
“Efetuamos a apreensão de um total de 17 pessoas por tentarem consumar um golpe de Estado”, declarou em coletiva de imprensa o ministro de Governo, Eduardo del Castillo.
Haviam sido presos até quarta-feira (26) o general Juan José Zúñiga e o vice-almirante Juan Arnez, ex-comandantes do Exército e da Marinha, respectivamente, acusados de liderar a tentativa de golpe. Ontem (27), o governo apresentou os outros 15 capturados, que estavam algemados, vestiam coletes à prova de balas e eram vigiados por efetivos policiais.
“Isso (tentativa de golpe) estaria planejado desde maio passado”, disse o ministro, informando que outros três suspeitos estão sendo procurados.
Segundo del Castillo, o plano para derrubar Arce “foi liderado” por Zúñiga e Arnez. Ambos os oficiais foram acusados de insurreição armada e terrorismo, crimes pelos quais podem ser condenados a penas de até 20 anos, segundo o Ministério Público. Entre os civis presos está Aníbal Aguilar, um ex-vice-ministro dos anos 1980 que coordenava o programa de erradicação do narcocultivo.
O governo da Bolívia negou que tenha forjado a tentativa de golpe, como acusou Juan José Zúñiga. Ele argumentou que Arce pretendia com isso elevar a sua popularidade.
O presidente Luis Arce comemorou com o punho erguido o fracasso da tentativa de golpe, mas a tensão política aumentou ainda mais a crise no país, abalado pela falta de dólares e combustível. A tropa de choque redobrou a segurança em torno do palácio presidencial, que na véspera foi cercado por militares que tentaram invadir a sede do governo.
Arce agradeceu ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pela mensagem de repúdio à tentativa de golpe. A ONU defendeu uma investigação “completa e imparcial” sobre as acusações de violência relacionadas à tentativa de golpe na Bolívia e pediu “julgamentos justos” para os detidos.
Avião
A Força Aérea Brasileira (FAB) e a Polícia Federal (PF) interceptaram uma aeronave de origem boliviana que ingressou clandestinamente no espaço aéreo brasileiro, na quarta-feira (26). Após constatada a presença ilegal próxima de Porto Velho (RO), a FAB iniciou o processo de interceptação da aeronave, que desobedeceu às ordens da Força e fugiu.
A embaixada da Bolívia no Brasil não se pronunciou. “As ações foram adotadas por se tratar de um tráfego ilícito, que se mostrou não colaborativo e desobedeceu a todas as orientações feitas pela defesa aeroespacial brasileira, vindo a se evadir e ingressar no espaço aéreo da Bolívia, onde as ações foram interrompidas pelo Comando de Operações Aeroespaciais (Comae)”, informou a FAB em comunicado.
A aeronave boliviana, do modelo Cessna 401A, foi detectada por radares da FAB. Dois caças A-29 Super Tucano, de defesa aérea, foram usados para tentar interceptar o invasor. (AFP e Estadão Conteúdo)