Setembro Amarelo: Se quer chamar atenção é porque precisa de atenção

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A psicóloga e voluntária no CVV, Sandra Arca, durante palestra na Uniso. Crédito da foto: Ariadni Siqueira (10/9/2019)

A psicóloga e voluntária no CVV, Sandra Arca, durante palestra na Uniso. Crédito da foto: Ariadni Siqueira (10/9/2019)

O Brasil registrou 106.374 casos de suicídio entre 2007 e 2016. O número é do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).

Somente em 2016, 11.433 óbitos ocorreram no País ligados a essa causa. Há cinco anos, foi criada uma campanha de prevenção ao suicídio que ficou conhecida como Setembro Amarelo. A ideia partiu do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Centro de Valorização da Vida (CVV) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

A origem da cor amarela veio dos Estados Unidos quando um jovem de 17 anos, Mike Emme, cometeu suicídio em seu carro. Era um Mustang 68, amarelo, em 1994. No velório, família e amigos fizeram cartões decorados com fita amarela. Neles, havia a mensagem “se você precisa, peça ajuda”. Após essa inciativa começou um movimento de prevenção ao suicídio.

Momentos de crise

Falar sobre os momentos de crise que a levaram a atacar a própria vida é para a fotógrafa e gestora de eventos de Sorocaba, Fernanda França, 25 anos, uma forma de contribuir para a conscientização sobre o suicídio. Ambiente de trabalho, relacionamento abusivo e ciclos de problemas em casa e com amizades contribuíram para tal tentativa.

Aos 23 anos, Fernanda teve a primeira crise. “Me sentia inútil, era uma luta diária pra tentar mudar, agradar as pessoas e tentar sobreviver ao caos na minha cabeça.” Foi então que “em um dia, eu estava pintando a unha e do nada comecei a me furar várias vezes com o palito”.

Fernanda conta que só começou a perceber que suicídio não era a solução quando começou a fazer tratamento com profissionais. Além de se conhecer melhor, ela passou a se dar valor, o que ajudou a se afastar de tudo o que a fazia mal.

Com esse aprendizado, se ela pudesse dar um conselho ao seu eu do passado, seria: “Procure ajuda o mais rápido, depressão tem que ser tratada como qualquer outra doença”. E completa: “O tratamento é a melhor coisa do mundo, você vai se descobrir e voltar a se cuidar e amar.”

Desgastes emocionais

O hipnoterapeuta Nicholas Nilton Mendes, 21, conta que os pacientes chegam até ele com grandes desgastes emocionais. A ponto de enxergarem a morte como fuga. Mas ele garante que “os motivos do sofrimento são únicos em cada indivíduo”.

Estudantes da Uniso durante palestre com foco no Setembro Amarelo. Crédito da foto: Cortesia / Marcela Pellegrini Peçanha (10/9/2019)

Nicholas explica que a sociedade moderna e a tecnologia trouxeram avanços inegáveis. Porém, em contrapartida, deixaram as pessoas mais distantes, sem contatos na vida real. “Os valores se invertem. Ter mil amigos digitais (dos quais eu, talvez, não conheça nenhum) se tornou mais importante do que estabelecer amizades duradouras”, ele diz.

O hipnoterapeuta acredita que o Setembro Amarelo é um grande avanço. Mas, segundo ele, não deve haver atenção para o tema apenas em um mês, pois as pessoas não esperam até setembro para tentar suicídio. “Se ao invés de mês amarelo houvesse um ano amarelo ou até mesmo uma vida amarela, certamente as incidências de suicídio cairiam drasticamente de acordo com ele.”

Palestra na Uniso

No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, em 10 de setembro, a Universidade de Sorocaba (Uniso) promoveu uma palestra sobre o Setembro Amarelo. A programação contou com atrações diversas, incluindo o entretenimento, por meio do teatro, música em libras e palestrantes convidados.

Entre eles, estava Sandra C. Arca, psicóloga e voluntária no CVV. Sandra conta que no Brasil aproximadamente 32 pessoas se suicidam por dia e uma a cada 40 segundos.

Em sua apresentação, ela explicou um pouco sobre os “3 D’s”. São sentimentos que são comuns aos suicidas: “desesperança, desespero e desamparo”. Eles têm três palavras: Idealização, planejamento e suicídio.

Sinais

A psicóloga acentua que, em 80% dos casos, as pessoas dão sinais da intenção de se matar. Além das falas, como “vou deixar vocês em paz”, “queria dormir e não acordar mais”, há mudanças de comportamento, desleixo com a higiene, alcoolismo e abandono de um hobby, por exemplo.

Ao final de sua palestra, Sandra destacou que “as pessoas dizem que esses sinais são para chamar a atenção. Mas, se é para chamar a atenção, é porquê precisa de atenção”.

O CVV funciona 24 horas por dia e tem diversos voluntários para ouvir você que está passando por momentos difíceis. Ligue 188, envie um e-mail, converse com eles pelo chat ou vá até o ponto de atendimento mais próximo. Tudo é feito com total sigilo. (com informações de Giulia Alvers - Agência Experimental de Jornalismo da Uniso)

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