Coletivo Cê completa uma década de arte com atividades no Sesc Sorocaba
Em agosto de 2009, o Coletivo Cê arrebatava público e a crítica com a estreia de seu primeiro trabalho cênico, intitulado “Desterro”. Concebido para ser encenado à céu aberto, no antigo casarão da CPFL, na rua Ubaldino do Amaral, no Centro de Sorocaba, o espetáculo foi o resultado do enredamento de fragmentos de memórias pessoais dos atores.
De lá pra cá, muita história se passou e o grupo acaba de completar uma década de existência. O coletivo produziu outras cinco peças, transferiu a sua sede, do bairro da Chave, para um imóvel na avenida Newton Vieira Soares, no Centro de Votorantim. O local também funciona como Ponto de Cultura, equipado com biblioteca e acesso livre à internet e oferece sessões quinzenais gratuitas de cinema, por meio do projeto CineArte, projeto de educação de plateias desenvolvida com alunos da escola municipal Helena Pereira de Moraes; aulas de formação teatral e saraus bimestrais.
Ao longo de dez anos de existência, o Coletivo Cê se consolidou como referência no teatro experimental na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). “Eles nos trazem a mensagem da esperança, que não está tudo perdido. Que apesar das inúmeras dificuldades estes artistas driblaram e inventaram caminhos coletivos para colocar o talento na rua”, escreveu o professor, pesquisador do espaço teatral José Simões.
Comemoração
Para marcar esta primeira década de existência, o grupo realiza, a partir de amanhã até sábado, uma série de atividades no Sesc Sorocaba, que inclui roda de conversa, oficina para atores e apresentação de seu espetáculo mais recente, “1989”. “Para a gente tem sido uma alegria enorme poder comemorar esses dez anos. É comemorar um espaço de existência e resistência”, afirma o ator Hércules Soares, um dos fundadores do Coletivo Cê.
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O ator Júlio Mello, que também integra o grupo desde o início, confessa que “talvez pela intensidade” de tempo, dedicação e energia depositados ao coletivo, não viu o tempo passar. “É um momento de celebrar porque não é todo grupo de teatro que consegue chegar a 10 anos. Ainda mais nesse momento de incertezas em relação às políticas públicas de cultura”, acrescenta.
Diante da data, Júlio Mello afirma que os integrantes do coletivo têm realizado uma espécie de retrospectiva, observando as transformações internas e externas e valorizando o processo de amadurecimento construído ao longo do período. “Tivemos que revisitar diversos momentos da nossa trajetória que estavam adormecidos, reencontrar pessoas que não fazem mais parte [do grupo], olhar os momentos bons e os de conflitos e ver que tudo isso fez parte do nosso crescimento”, assinala.
Em “Desterro”, o Coletivo Cê chegou a contar com aproximadamente 25 integrantes, entre elenco principal e de apoio, equipe técnica e até músicos. Atualmente, o grupo é centrado em cinco de seus fundadores. Além das atividades comemorativas no Sesc Sorocaba, o grupo vai revisitar parte de seu repertório. Em outubro, em sua sede, reencenará “Para que (eu) possa existir nos próximos segundos”, e em novembro, na lona da Biblioteca Infantil Municipal, reapresentará “A paixão do circo”, desenvolvido em parceria com o Circo-Teatro Guaraciaba.
As comemorações de dez anos do Coletivo Cê tiveram início há duas semanas, com uma nova montagem de “Desterro”, com participação de antigos e novos parceiros. A reapresentação do espetáculo de estreia da companhia ocorreu no histórico Sítio Santo Antonio, em São Roque, e foi marcada pela emoção, tanto para os remanescentes do coletivo quanto para parte da plateia que há uma década era arrebatado com aquele grandioso espetáculo. “Tivemos a presença de alguns meninos da companhia Devestra, da zona norte [de Sorocaba], que deram depoimento dizendo que se engajaram em fazer teatro depois de assistir ao nosso trabalho dez anos atrás. Para a gente isso é muito gratificante. É a prova de que a arte tem o poder de afetar e ser afetado”, complementa Soares.
Atividades gratuitas
A programação no Sesc tem inicio na quinta-feira (29), às 19h, com o painel “Território existencial Coletivo Cê: dobras, experiências, afetos e intensidades” que vai compartilhar com público os resultados e desdobramentos de três pesquisas acadêmicas sobre o trabalho do grupo teatral. Participaram do debate a jornalista Tatiana Plens (Unicamp), o ator Hércules Soares (UFSCar), que produziram dissertações de mestrado pautadas na trajetória afetiva do grupo, e ator e diretor Carlos Doles (Unicamp), que em seu mestrado analisa o Coletivo Cê como potência na criação de territórios existenciais para arte do interior paulista. A atividade gratuita ocorre na Sala 1 da unidade.
Na sexta, às 19h, os atores Júlio Mello e Hércules Soares conduzem o workshop “O ator propositor”, que explora os limites propositivos do ator. Por meio da apropriação imediata dos exercícios apresentados, o participante será instigado a se colocar como provocador da cena. Serão utilizados jogos coletivos e individuais, improvisos, experimentações e composições cênicas.
Para finalizar as comemorações no Sesc, o grupo apresenta no sábado, às 20h, no teatro da unidade, o espetáculo “1989”. Mais recente criação coletiva do grupo, “1989” é encenada por Bruna Moscatelli, Eliane Ribeiro, Hércules Soares e Júlio Mello. A peça acompanha o cotidiano de uma típica família interiorana do ano de 1989, em frente à televisão, durante a primeira eleição direta para presidente pós-ditadura militar. Através da programação original da época, que conduz a trama, a obra propõe um mergulho lúdico no tempo para refletir sobre as perversidades dos dias atuais.
As três atividades são gratuitas e para participar é necessário retirar ingresso com uma hora de antecedência na Central de Atendimento da unidade (rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade). (Felipe Shikama)