Declínio do pedal de embreagem

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98% dos compradores do Fiat Toro preferem o modelo equipado com câmbio automático. Crédito da foto: Divulgação

98% dos compradores do Fiat Toro preferem o modelo equipado com câmbio automático. Crédito da foto: Divulgação

Neste ano, 52,4% de todos os automóveis vendidos no Brasil saíram de fábrica com câmbio automático. É a primeira vez que isso ocorre. Os dados se referem aos emplacamentos de carros de passeio, picapes e SUVs nos quatro primeiros meses de 2020, incluindo os modelos para PCD. As informações são da IHS Markit, consultoria especializada no setor de veículos.

Os números são parciais e podem mudar ao longo do ano. Mas apontam fortemente para a consolidação de uma tendência que vem ganhando força no País há bastante tempo.

Em 2010, apenas 10,6% dos automóveis vendidos no Brasil tinham câmbio automático. O avanço ganhou mais força a partir de 2014, quando 23,5% dos automóveis emplacados no País eram automáticos. Em 2019, batemos na trave, com 49,5% de participação.

É quase certo que a tendência registrada no primeiro quadrimestre se consolide. Se isso ocorrer, será o primeiro ano da história em que as vendas de automáticos vão superar a de carros com câmbio manual. Há risco, ainda que pequeno, de que esse avanço perca fôlego. E o motivo tem nome e sobrenome: novo coronavírus.

A explicação é simples. O mundo emergirá da pandemia mais pobre do que submergiu. Um dos sinais vem da Comissão Europeia. O produto Interno Bruto (PIB) gerado pelo bloco deverá recuar 7,7% em 2020.

Crédito da foto: Divulgação

“Alguns comportamentos do consumidor do futuro vão mudar, porque novas ansiedades e dores vão surgir dessa pandemia” disse em entrevista ao jornal O Tempo o presidente da FCA para a América Latina, Antonio Filosa. Segundo o executivo, uma mudança possível é o transporte público se tornar opção secundária para muitos consumidores. Esse comportamento foi observado na China.

Filosa acredita que o brasileiro deverá preferir andar com o próprio carro, o que pode dar impulso às vendas de modelos de entrada. E modelos mais baratos têm câmbio manual.

Presidente da Anfavea, associação que reúne as fabricantes de veículos do País, Luiz Carlos Moraes concorda. De acordo com ele, o brasileiro quer um carro mais completo, com tecnologias avançadas voltadas ao conforto e à segurança. Mas há a questão da perda de renda. “Pode ser que em um primeiro momento o consumidor opte por modelos mais simples.”

Moraes lembra que o carro é visto como uma “área de proteção” contra o novo coronavírus. “Está havendo uma mudança de comportamento da sociedade por causa da doença”, afirma. Segundo ele, ainda é cedo para saber como o consumidor irá reagir. “A consulta aos sites de venda de veículos continua alta. Há muitos consumidores querendo comprar‘, diz.

Moraes lembra que várias marcas passaram a investir mais na oferta online de carros. Essa modalidade de negócio permite que o consumidor inclua o custo do seguro, por exemplo, na parcela do financiamento. O executivo afirma que o cliente busca por modelos específicos e tem clareza sobre os equipamentos que o veículo tem. “Ele sabe o que quer.”

Mais vendidos

Um dado curioso diz respeito ao ranking de automóveis mais vendidos do País com câmbio automático. No topo está a picape Toro, da Fiat. Das 65,5 mil unidades emplacadas em 2019, 98% tinham esse tipo de transmissão.

Quem compra Yaris quer câmbio automático. Crédito da foto: Divulgação

Em seguida vêm a linha Yaris, da Toyota, os Jeep Renegade e Compass e o Nissan Kicks. (Tião Oliveira - Estadão Conteúdo)