Empreendedores apostam em novos caminhos para driblar efeitos da crise

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Eduardo Mantovani: é importante planejar a continuidade do negócio. Crédito da foto: Divulgação / Sebrae

Com as restrições para funcionar, Adilson decidiu alugar aparelhos da sua academia para os clientes. Crédito da foto: Fábio Rogério (27/8/2020)

Além de impor restrições e mudanças comportamentais, a pandemia do novo coronavírus também afetou a rotina de trabalho de muitas pessoas, que sentiram rapidamente os prejuízos provocados pela crise. Diante desse cenário, alguns encontraram na adversidade uma forma de se manter nesse período e até de explorar novos caminhos.

Por conta dos espaços fechados e das imposições para reuniões de pessoas, as academias foram uma das primeiras áreas impactadas pela pandemia. Tão logo a Covid-19 se alastrou, esses espaços tiveram que ser fechados, medida que afetou de clientes a empresários do ramo. Adilson Mello é proprietário de uma academia na avenida Ipanema, na zona norte de Sorocaba, e foi um dos que sentiu depressa os efeitos da crise. “A princípio, imaginávamos que seria algo rápido, que tudo estaria resolvido em um mês, mas não foi isso o que aconteceu”, relatou.

Administrando a academia ao lado da esposa, Cibele, Mello viu os alunos deixarem de renovar os planos mensais. “Só trabalhamos com esse tipo de plano e fomos muito impactados logo no início da pandemia, Foi minha esposa que teve a ideia que fez com que nós conseguíssemos nos virar ao longo desses meses”, contou.

A academia passou a alugar equipamentos para aqueles que desejavam continuar com a rotina de exercícios em casa. Para isso, Mello fez contratos semanais, quinzenais e mensais para aparelhos que podiam ser transportados. “Nós levávamos os equipamentos e, dependendo do tamanho, fazíamos uma parceria para o frete. Só as máquinas maiores não podiam ser alugadas”, explicou o proprietário da academia, que não descarta seguir com o projeto no futuro.

Padaria móvel

Sem alunos para transportar, Edvandro passou a fazer pães e transformou a van numa padaria móvel. Crédito da foto: Fábio Rogério (27/8/2020)

A pandemia também alterou a rotina de Edvandro Marques da Silva, que parou de trabalhar com transporte escolar, área em que atua há oito anos, para investir em um novo negócio. Depois que os pais dos alunos romperam os contratos, ele decidiu reviver as experiências da primeira profissão, quando trabalhou como padeiro, aos 13 anos.

Apostando nessa possibilidade, ele transformou uma van escolar em padaria móvel, passando a fazer entregas e vender produtos em condomínios. “Isso está nos ajudando a sobreviver. Os produtos comercializados são 70% de fabricação artesanal e também fazemos vendas porta a porta nos bairros, sempre com divulgação nas redes sociais”, detalhou Silva, que também pensa em deixar uma das vans que possui para essa finalidade depois que a pandemia acabar.

Contar pessoas

Sócios de uma empresa de automação, Ronalti e Rogério criaram um limitador eletrônico de aglomeração. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (28/8/2020)

Ronalti Nunes tem uma empresa de automação, especializada em segurança de máquinas, e foi afetado pela pandemia pelo fato de atender muitos clientes do ramo de autopeças, outro mercado bastante impactado pelo coronavírus.

Quando as estabelecimentos tiveram que passar a controlar a entrada de pessoas, para evitar aglomerações, Nunes percebeu que a maioria desses locais fazia a contagem manualmente ou então não tinha mão de obra especializada para operar equipamentos mais complexos.

Junto com o sócio, Rogério Hess Mizer, Nunes passou três meses desenvolvendo um limitador eletrônico de aglomeração, equipamento que registra o número de pessoas dentro de um ambiente e controla o fluxo de movimento de entrada e saída. “É um produto de baixo custo e que não precisa de instalação externa. Além de ser programado para registrar a capacidade máxima de pessoas em um local, ele também emite alertas antes desse número ser alcançado”, disse.

Nunes e o sócio já possuem a patente do equipamento e uma reserva de mercado que permite a comercialização do sistema em 36 países. Ele aposta que, mesmo depois da pandemia, o produto possa ser utilizado por estabelecimentos para controle estatístico de pessoas e até para evitar fraudes de pagamento de comandas em bares.

‘Grandes inovações vieram de períodos extremos’, diz consultor

Eduardo Mantovani: é importante planejar a continuidade do negócio. Crédito da foto: Divulgação / Sebrae

As dificuldades impostas por uma crise podem se reverter em boas ideias e novas formas de trabalho. Essa é a visão do consultor do Escritório Regional do Sebrae/Sorocaba, Eduardo Tadeu Mantovani. “Grandes inovações vieram de períodos extremos”, observa.

Segundo o consultor, as fases de escassez de recursos podem estimular pessoas a pensar em novos caminhos. “Muitas vezes, a dinâmica do dia a dia não permite que as pessoas parem para pensar no que podem fazer melhor. Em um momento como o de agora é que as oportunidades podem aflorar e da necessidade surge mais uma fonte de renda”, destaca.

Mantovani afirma que, apesar da inovação surgir da necessidade de ajuste à demanda das pessoas, é importante planejar a continuidade dos projetos para o futuro. “Negócios demoram, em média, um ano e meio para se profissionalizarem. Muitos começam a dar certo, mas, depois de um tempo, são abandonados. Por isso, é importante valorizar a cultura do planejamento”, diz.

Mantovani pontua algumas orientações para aqueles que desejam investir em novos rumos profissionais. “Esvaziar a mente colocando ideias e planejamentos no papel pode ajudar a ser mais assertivo. Comprometimento; busca e organização de informações; não misturar contas pessoais com as do negócio; e pensar na contribuição dessa proposta para a sociedade também são dicas importantes”. E cita uma frase que acredita concentrar o foco para qualquer empreitada que vier a ser realizada, “Trabalhe com o que tem, fazendo o que pode a partir de onde está”. (Erick Rodrigues)