12 anos em 1 dia e a pressão dos vestibulares
Fábio Enrique Garcia Hernandez, com Pedro Lucas Prununciati
Último bimestre do ano, um período em que os estudantes colocarão à prova o preparo que tiveram durante toda uma vida acadêmica que os acompanha desde os meados da infância. É a época em que sintomas de ansiedade e nervosismo aparecem. É chegada a temporada dos vestibulares.
Desde quando apresentadas à vida acadêmica e até o final do ensino médio, as pessoas são instruídas a se dedicar ao máximo nos estudos para um suposto dia especial que virá, o dia do vestibular. Quem nunca sofreu aquela pressão de um pai ou professor, dizendo que você deveria deixar os momentos de diversão totalmente de lado para se dedicar somente aos estudos, ou caso contrário não se tornariam alguém na vida?
Nesta época do ano, pessoas de todo o Brasil concorrem, por meio dos vestibulares, às vagas de universidades e faculdades em todas as áreas do conhecimento (exatas, humanas e biológicas). Para serem aceitos e ingressar no curso superior, essas pessoas são sujeitas a um critério de avaliação aplicado pela universidade escolhida, que, na maioria dos casos, é um tanto quanto curioso: somente se aplicam provas extensas e cansativas, com questões de múltipla escolha e/ou, quando muito, discursivas. Um exemplo é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Atualmente, o Enem é dividido em duas provas: a primeira, com cinco horas e meia de duração -- que ocorreu neste último domingo (3/11) -- aborda os temas de linguagens e ciências humanas, além do desenvolvimento de uma redação. Já a segunda parte, com cinco horas de duração, será realizada no próximo domingo (dia 10/11), aborda os temas de ciências da natureza e matemática. Ao todo são 180 questões de múltipla escolha, uma redação e dez horas e meia de prova.
Provas como o Enem e outros vestibulares avaliam o candidato por meio de inúmeras questões teóricas, aplicadas em um determinado período de tempo. Caso atinja um número mínimo de respostas corretas, você é aceito no curso. Caso não atinja, infelizmente só poderá tentar novamente na próxima temporada de vestibulares. Esse tipo de processo seletivo submete os estudantes a níveis de estresse consideráveis. Muitas vezes, quando chega o tão aclamado dia especial, alunos capazes e com uma ótima trajetória acadêmica ficam inseguros e nervosos e terminam não demonstrando a qualificação exigida, devido às pressões externas e internas.
Tal critério traz um questionamento sobre como avaliamos nossos jovens para o ingresso no ensino superior. Tendo em vista que passam anos de sua vida estudando para um único dia em especial, muito provavelmente, por se dedicarem somente aos estudos, não conhecem o mercado de trabalho como deveriam e escolhem uma carreira universitária sem saber direito se realmente é o que procuram.
Por conseguinte, pergunta-se: será que o modelo de avaliação atual é, de fato, o melhor para selecionar o universitário mais qualificado, bem como sua área de atuação? Isto é, realmente capta todo o potencial, motivação e desempenho dos alunos? Será que o preparo atual dos estudantes, que dura no mínimo 12 anos seguidos desde o início do ensino fundamental, está sendo desenvolvido de maneira correta?
Ora, se um aluno se candidata a uma vaga para um curso de exatas, engenharia por exemplo, será que em vez de usar uma prova tão extensa quanto o Enem para critério, não caberia aplicar uma prova mais curta, porém mais específica e avaliar todo o histórico escolar do aluno, bem como suas ambições e perspectivas de profissão? Não caberia incluir mais conhecimento prático e noções do mercado de trabalho nas áreas de interesse do estudante durante o preparo no ensino fundamental e médio? Dessa forma, os alunos estariam mais preparados para um processo de avaliação mais justo, por meio da jornada acadêmica e autoconhecimento dos candidatos.
Fábio Enrique Garcia Hernandez é aluno do curso de graduação em Engenharia Ambiental (fabio.hernandez@unesp.br) e Pedro Lucas Prununciati é Engenheiro Civil graduado na Facens e aluno de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais da Unesp (pedro.prununciati@unesp.br).