De olho no Big Brother Brasil
Artigo escrito por Éric Diego Barioni
Inegavelmente, o Big Brother Brasil é um reality de televisão capaz de arrastar multidões. Sem julgamentos de valor, esta programação e suas discussões internas muitas vezes chegam até mesmo àqueles que não se interessam pelo assunto. No dia de hoje, inclusive, brinquei com meus alunos da Saúde, perguntando: o que a prova do anjo no BBB tem a ver com a vacinação? Em grupo os alunos logo responderam: professor, ambas são capazes de imunizar alguém. Esta resposta foi o gatilho que utilizei para explicar aos alunos que o termo imunidade é derivado da palavra latina imunitas, e que se refere à proteção que senadores romanos, durante seus mandatos, tinham contra processos legais. Historicamente sabemos: imunidade, significa proteção contra doença.
Crianças, adolescentes, adultos e idosos estão ligados no BBB, e é bom utilizar destes exemplos para trazer significado e aproximar o conhecimento dos estudantes. Aqui você já percebeu que eu tenho acompanhado o programa, não é? A resposta é sim, e vou lhe escrever uma coisa: nós precisamos compreender estas movimentações. O Big Brother Brasil tem me deixado mais uma vez muito preocupado, e esta preocupação ocorre justamente pela capacidade do reality de televisão, que incrivelmente arrasta multidões, incluindo, principalmente, adolescentes e jovens adultos.
Desde a década de 80, o uso de cigarro tradicional pela população, incluindo principalmente adolescentes e jovens adultos, tem diminuído, e isto ocorreu graças as ações que foram desde então implementadas. Entre estas ações, destaco: a interrupção das propagandas de cigarro, a inclusão de mensagens de alerta em embalagens e pontos de venda e, entre outras ações, a regulamentação de leis que impediram o uso de cigarros em ambientes fechados, por exemplo.
O fato é que, direcionadas aos adolescentes, as táticas enganosas da indústria do tabaco envolvem, por exemplo: o marketing indireto em filmes, séries e programas de TV, o patrocínio de celebridades e influenciadores digitais, o uso de sabores e odores atrativos, o design, que torna o produto ou sua embalagem atraente e enganosa, e, entre outras coisas, as campanhas irresponsáveis que visam divulgar o produto indiretamente para crianças. Em outros textos que foram publicados aqui, já conversamos sobre este tema.
Porém, agora, na prática, se você acompanha o BBB, sabe bem do que estou falando. O uso de cigarro no reality é comum. Antigamente, as propagandas televisivas de cigarro também trabalhavam pessoas e situações envolventes e contribuíram muito para a experimentação precoce e uso do tabaco por meio do cigarro tradicional. Precisamos ficar atentos e de olho para que o cenário atual de diminuição de frequência de uso de tabaco por meio de cigarro tradicional, que foi conquistado a duras penas, não seja gradativamente perdido e/ou negativamente modificado.
Em Sorocaba, tenho acompanhado um aumento infeliz da oferta de narguilé por meio de comércios que disponibilizam insumos para venda ou consumo imediato de tabaco e essências pelo uso do dispositivo no local. O narguilé é um exemplo de dispositivo para uso de tabaco, que é aparentemente inofensivo, porém muito prejudicial à saúde. Por fim, a frequência cada vez maior no uso de tabaco e nicotina por meio de narguilé e cigarro eletrônico, respectivamente, já representam problemas reais entre adolescentes e jovens adultos, e comportamentos irresponsáveis adicionais em rede nacional de nada ajudam as autoridades de saúde e a saúde pública.
Éric Diego Barioni é biomédico, mestre e doutor em Toxicologia, conselheiro suplente e presidente da Comissão de Toxicologia do CRBM-1, e coordenador e professor do curso de graduação em Biomedicina na Uniso. E-mail: eric.barioni@prof.uniso.br