Convívio em sala de aula: por que ele é tão importante para as crianças?
Artigo escrito por Sueli Conte
O isolamento social imposto pela pandemia vem mostrando para a maior parte da população o quão importante é a convivência com outras pessoas. Não falo apenas da liberdade de ir e vir, mas da oportunidade que ela nos dá de ver e conhecer outros indivíduos, de estabelecer novas relações, de conhecer de perto outros costumes e culturas.
O início da nossa vida social se dá na escola. É interessante pensar na importância disso, porque sempre que refletimos sobre a necessidade de enviar uma criança à escola, a relação é feita, diretamente, com sua alfabetização e formação educacional. Porém, os primeiros anos de convivência escolar, especialmente na primeira infância, são extremamente importantes para o estabelecimento de vínculos afetivos. Ignorar o potencial de aprendizagem social nessa fase da vida pode trazer impactos importantes no futuro.
Ao estar em sala de aula, a criança aprende a responder a estímulos coletivos. Também é nesse contexto que os pequenos entendem o que é compartilhar a atenção com outras crianças, especialmente em configurações familiares com cada vez menos filhos. Também é em sala de aula que as crianças estabelecem os primeiros vínculos de amizade, absorvem valores, entendem a importância de assistir aula, aprendem a ter foco e disciplina, compreendem os espaços de cada um, a conviver com os acertos e erros dos outros e a respeitar não só o professor, como também o coleguinha. A convivência nesse espaço e na escola como um todo tende a ser extremamente positivo para todos os alunos ali reunidos. O fato é que as conexões sociais positivas ajudam a garantir um desenvolvimento saudável, seja físico ou emocional.
Em algum momento você já leu ou ouviu alguém falar que crianças tendem a aprender pelo exemplo. Ao testemunhar relacionamentos positivos, elas são emocionalmente sustentadas. Esse comportamento observado ajudará em suas habilidades emocionais e no funcionamento cognitivo no futuro. Em cada estágio do desenvolvimento, as necessidades mentais e comportamentais específicas são atendidas pela socialização e todas geram reflexos posteriores.
É interessante notar que crianças com comportamento social mais arrojado são mais propensas a ter um bom desempenho nos estudos, a entrar na faculdade, conseguir trabalho de destaque e não cometer crimes. Além disso, as habilidades de comunicação são aprimoradas mais rapidamente, a sensação de pertencimento a um grupo reforça sua autoestima, o convívio com outras crianças ajuda no desenvolvimento da aprendizagem e está diretamente ligada à gestão das emoções, ganho de autoconfiança, independência e capacidade de solucionar problemas.
Além de tudo isso, é no convívio escolar que a criança e o adolescente atingem o amadurecimento em termos de cidadania. É em sala de aula, muitas vezes, que eles serão confrontados, pela primeira vez, por situações relacionadas ao respeito aos seus direitos e aos direitos de terceiros. É na escola que acontecem os primeiros debates sobre os limites de cada um e que eles precisarão seguir regras que não foram estabelecidas por um familiar.
Aliás, é possível que muitos pais tenham visto seus filhos desanimados, que eles estejam menos dispostos para estudar e até que o rendimento escolar tenha caído nesses últimos tempos. Acreditem, isso não é uma surpresa. Eles sentem falta do convívio escolar, de encontrar os amigos e os professores, de trocar ideias em sala de aula, de fazer trabalhos em grupo e discutir os temas aprendidos. A natureza dos seres humanos está em estabelecer relações. É por isso que o convívio escolar é tão primordial para todos nós.
Sueli Conte é especialista em educação, mestre em neurociências, psicopedagoga, diretora e mantenedora de colégio de ensino infantil e médio.