Marvada carne

O brasileiro está consumindo menos carne vermelha. O motivo é simples: o preço está indigesto. Tanto que muita gente trocou o churrasco de fim de semana pela couve-flor gratinada. Também, com o quilo da picanha batendo a casa dos R$ 50,00, a ordem é improvisar. Assim, no domingo, sai à alcatra e entra a sardinha. O franguinho na panela, o pimentão recheado e o repolho abafadinho ajudam a variar o cardápio.

Durante a semana, o ovo tem sido a estrela da cozinha: ovos fritos, ovos cozidos, ovos mexidos, omelete de banana e o francíssimo “ovo poché” (tem receita internet). Carne mesmo, pra valer, só em ocasiões muito especiais. Isso lembra a comédia “A marvada carne”, de 1985, em que o saudoso ator sorocabano, Adilson Barros, que faz par romântico com Fernanda Torres, vive um caipira que sonhava com um bife acebolado. Acontece que o matuto morava num lugar em que a pobreza não dava trégua e ter tal iguaria à mesa era um verdadeiro luxo.

Fora da ficção, o sorocabano vivencia algo parecido, pois até mesmo o preço da carne de segunda deixa o caboclo arrepiado. Qual a explicação? Segundo os economistas, a carne teve alta de 42%. Para amargar o sabor, a safra está magra e a exportação do produto reduziu a oferta do boi gordo no pasto. Como o quilo do mignon não sai por menos de R$ 59,99, o negócio é apelar pro strogonoff de patinho, desde que tenha champignon e batata palha.

Brincadeiras à parte, a verdade é que os consumidores não entendem a lógica do mercado, ou seja, o descompasso entre o que ganham e o que se cobra pela carne nos açougues da cidade, já que a maioria é assalariada. Além disso, o economês é pouco palatável. Logo, a alternativa encontrada por muitos foi reduzir, drasticamente, o consumo de carne bovina. Neste ano, não chegará a 6% por habitante. Há até quem pense em virar vegano; assim, enquanto economizam, cuidam da saúde. Mas, mudar certos hábitos é um desafio. Até porque, para muitos, é mais fácil deixar de fumar do que trocar a maminha pelo jiló.

(*) João Alvarenga professor de redação e cronista.