Filmes da Netflix: ‘Um homem de sorte’ (parte 1 de 2)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

Por Cruzeiro do Sul

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Peter (Esben Smed), incansável na busca de viabilizar suas ideias científicas.

Este filme dinamarquês de 2018 foi dirigido por Bille August e se baseia na obra do escritor dinamarquês ganhador do Prêmio Nobel Henrik Pontoppidan. Foi escrita entre 1898 e 1904.

Pontoppidan se ocupou principalmente de temas sociais e “Lykke-Per” (“O afortunado Per”, em tradução livre), que inspirou o filme, descreve um panorama geral da sociedade dinamarquesa do final do século 19 e início do século 20, tanto da cidade como do campo. Esse é o momento histórico em que a Europa passava por grandes transformações sociais, políticas, nas artes e nas ciências. Freud desenvolveu a psicanálise, assistimos ao fim de várias monarquias (como no Brasil) e o surgimento de democracias. O cinema foi inventado. Ocorreram as unificações de Itália e Alemanha, intensificou-se o sentimento de nacionalidade na política e nas artes, que fez emergir o nacionalismo na música, por exemplo. o Impressionismo, o Realismo, a Art Nouveau, o Expressionismo, o Simbolismo e uma série de outros “ismos” de curta duração, dada à enorme dinâmica das mudanças que ocorriam.

A Segunda Revolução Industrial da segunda metade do século 19 e primeira metade do século 20 exigiu uso massivo de energia para impulsionar o processo produtivo fabril. Peter o protagonista do filme, é obsedado pela ideia do aproveitamento das forças das águas do mar e do vento como substitutas do carvão para gerar energia elétrica, a fim de possibilitar a industrialização da Dinamarca e incrementar a posição do país na economia mundial. Seus projetos são aceitos com reservas, porque exigem enormes investimentos. Porém, em nenhum momento do filme ele se refere ao petróleo como a fonte de energia que brevemente se mostraria muito mais competitiva. E poderia tê-lo citado, porque, já em 1886 havia sido construído o primeiro automóvel a gasolina na Alemanha, fabricado por Benz. Motores a óleo diesel já começavam a surgir em outros países da Europa, além da Alemanha, e seriam empregados para locomoção a partir dos primeiros anos do século 20.

Portanto, o que Peter propõe, com toda a sua genialidade, é uma solução visionária de futuro, mas que já nasce ultrapassada.

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Peter, que nasceu e mora na zona rural da Dinamarca, recebe a notícia de que foi admitido no curso de engenharia em Copenhagen. Descende de uma família tradicional de ministros cristãos e sua vocação para ciências confronta a vontade do pai, que aspira a fazê-lo ingressar na carreira religiosa. Inflexível, diz ao filho que aquele que desafia o Senhor jamais terá paz e agride-o fisicamente. Peter chama-o de hipócrita e afirma que sempre se sentiu estranho na família.

O jovem vai para a capital sem dinheiro, mora em condição deplorável em um quarto alugado. Contudo, a sorte parece ajudá-lo quando casualmente conhece Ivan Salomon, filho de um rico banqueiro judeu. Ivan convida Peter à sua casa e lá ele conhece as duas irmãs do novo amigo. De início, ele é atraído pela mais jovem, mas muda seu foco de interesse para a mais velha, Jakobe, já meio comprometida com um homem rico. Jakobe, no entanto, se apaixona por Peter e ambos passam a manter uma relação amorosa.

Conclui na próxima semana.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

Nildo.maximo@hotmail.com