Sustentabilidade na era da IoT

Artigo escrito por Claudio Tancredi

Por Cruzeiro do Sul

A palavra sustentabilidade carrega muitos sentidos, especialmente quando pensamos no mundo do futuro, mas ela também pode guardar a chave para a sobrevivência das empresas. Nas últimas décadas, as problemáticas ao redor das mudanças climáticas e outros fatores importantes envolvendo a ação humana no mundo natural, cresceram muito em escopo e complexidade. A maneira como estabelecemos o ritmo de desenvolvimento no século 20 foi impressionante, já que passamos das máquinas à vapor no começo do século até o surgimento da internet e do mundo no qual vivemos hoje. É graças a esse desenvolvimento rápido que hoje também possuímos mecanismos tecnológicos e estratégicos para agir em ações sustentáveis, no ritmo de um mundo cada vez mais acelerado e exigente, mas também mais dinâmico e conectado.

Sustentabilidade não é mais preocupação de ongs e cientistas. O mundo digital cresceu e a informação hoje é acessível e imediata para milhares de consumidores em todo o planeta. Nesse contexto, as empresas atingiram também um poder de influência impressionante. Quando orquestradas e bem definidas as ações em sustentabilidade de uma empresa podem gerar efeitos transformadores em nossa sociedade, inclusive quando consideramos a forma mais ampla do termo, que vem sendo debatida a partir da sigla ESG (Environmental, Social and Governance), que adiciona prioridades e posturas na agenda da sustentabilidade.

A ideia é uma postura integrada, que reflete no meio ambiente, nas comunidades e no modelo de negócios. Uma empresa com uma postura ESG bem definida, busca diminuir os impactos negativos e ampliar ações positivas, que geram mais igualdade, proteção dos ecossistemas e transformações impactantes na cadeia produtiva. Esse é o caminho traçado para um novo mercado, preparado para as demandas de um público cada vez mais preocupado com o futuro.

A expansão da tecnologia nas últimas décadas foi o principal veículo de mudança em nossa forma de viver e de fazer negócios, acelerando e dinamizando as relações entre as empresas e possibilitando novos formatos, como o home office, que garantiu a sobrevivência de várias corporações na época em que vivemos. Acredito que o foco deva estar em entender como a tecnologia pode auxiliar também para criarmos soluções sustentáveis ou para diretamente mitigar os focos de prejuízo ao meio ambiente. Um dos fatores mais interessantes da digitalização é a economia de energia, cada vez mais priorizada em soluções como o 5G, muito mais eficiente que o 4G.

No entanto, gostaria de destacar o papel que uma tecnologia pode ter na preservação dos biomas, como é o caso da inteligência artificial. Um exemplo magnífico é a Rainforest Connection, uma organização de proteção às florestas tropicais que utiliza um dispositivo chamado “Guardian”, movido a energia solar e equipado para gravar som e transmitir dados para a nuvem. O equipamento grava todos os sons da floresta 24 horas por dia em um raio de 3 quilômetros, e algoritmos de inteligência artificial analisam automaticamente os sons para detectar serras elétricas, apresentando as localizações em que a extração ilegal de madeira possa estar acontecendo. Esse mecanismo é barato, altamente tecnológico e capaz de uma série de usos extras, como a identificação de espécies e análises científicas de paisagem sonora da natureza.

A Indústria 4.0 traz benefícios financeiros que devem ser impulsionados pela adoção de novas tecnologias. Entre os desafios estão o grande volume de dados e o desenvolvimento de sistemas de informação para apoiar a tomada de decisões. Para oferecer soluções mais sustentáveis, é necessário implementar máquinas cada vez mais flexíveis, adaptáveis, autônomas e inteligentes, com leitura do ambiente em tempo real e respostas imediatas. Tudo isso vai melhorar a eficiência dos processos, resultando em ganhos de produtividade e melhorias nos aspectos de sustentabilidade.

Alguns setores que podem se beneficiar do uso da IoT são: agronegócio, em que a tecnologia é capaz de medir o estado de conservação do solo, incluindo o nível de umidade e nutrientes, além de medir o uso correto de água e fertilizantes; transporte, tornando-os mais inteligentes, em relação a possíveis problemas na estrutura, e avisos de revisões; e menos poluentes, com controle de aceleração e menor consumo de combustível; espécies raras de animais, por meio de dispositivos baseados em geolocalização, que podem rastrear animais ameaçados de extinção, monitorando seu estado de saúde; a arquitetura e construção, com tecnologia de energia solar, que pode ser controlada por dispositivos conectados à internet.

Esse é só o começo. A evolução tecnológica ainda está em curso e precisamos descobrir todo o potencial dessas novas ferramentas para criar um mundo mais positivo. Mas, para isso, precisamos agir e a hora é agora. Empresas de todos os nichos podem refletir e encontrar soluções ideais para sua realidade.

Governança, estratégia e inovação em prol de um mundo mais justo e mais saudável, essa é a minha visão de sustentabilidade.

Claudio Tancredi é engenheiro mecânico, tem MBA pela FIA-USP e extensões em Vanderbilt e Cambridge. Atua como country manager.