Prefeito deveria ter usado antes essa carta da manga

Sem dúvida faltou um pouco mais de atenção por parte da Prefeitura de Sorocaba

Por Cruzeiro do Sul

Roque Prestes

Roque Dias Prestes

Não é preciso ser nenhum excelente observador, para concluir que o ano de 2021 foi muito pobre, em matéria de chuvas, para a região de Sorocaba.

O resultado disso foi a drástica redução do armazenamento de água nas represas de muitas cidades ao redor da sede da região metropolitana. Por conta disso, há algum tempo, a população dessas cidades vem sendo obrigada a suportar a medida extrema, de racionamento, no uso do precioso líquido.

Sorocaba e as cidades ao entorno da represa de Itupararanga estavam de certa forma tranquilas, porque essa represa -- ainda, por muitas pessoas, chamada de represa da Light, porque, no começo do século passado, quando foi construída, teve a finalidade de fornecer energia elétrica à empresa canadense de energia elétrica de São Paulo, Light And Power -- abrange uma área territorial bem extensa, sendo por isso considerada um “mar de água doce”.

Ocorre, porém, que a estiagem prolongada que aconteceu no último ano, inevitavelmente, acabou secando algumas nascentes e diminuindo bastante a vertente de água em outras, todas responsáveis pela captação do manancial da represa de Itupararanga.

Como Sorocaba faz captação de água dessa represa, para abastecer 85% da sua população, sem falar ainda nas cidades de Alumínio, Ibiúna, Mairinque, Piedade e Votorantim, somadas aos condomínios residenciais às margens da represa e também muitos agricultores que fazem uso dessa água em suas plantações, a vazão acabou sendo muito maior do que a entrada de água na represa, o que ocasionou vertiginoso abaixamento do seu nível de represamento de água.

Muito embora a Votorantim Energia seja responsável pela administração da mencionada represa, fazendo constante monitoramento da vazão das suas águas, sem dúvida faltou um pouco mais de atenção por parte da Prefeitura Municipal de Sorocaba, pois quando a Votorantim Energia informou que o nível da represa de Itupararanga chegou a 40% da sua capacidade de armazenamento de água, Sorocaba deveria ter se colocado em estado de atenção e imediatamente, iniciado uma campanha de esclarecimento à sua população, conclamando-a a fazer uso racional e econômico de água.

Infelizmente, isto não aconteceu e o nível da represa de Itupararanga continuou abaixando gradativamente. Quando atingiu 30%, já era hora de Sorocaba partir para uma medida mais drástica e severa, implantando o racionamento em toda a cidade, único meio de se reduzir, compulsoriamente, o consumo coletivo de água.

Também não ocorreu e o nível de água abaixou para menos de 25%, chegando ao denominado “volume morto”, cujas águas armazenadas nas camadas mais profundas, não têm reposição frequente e estão sujeitas a ação de detritos e outras impurezas, o que torna mais dispendioso o seu tratamento para o consumo humano.

Segundo consta, a situação atual da represa de Itupararanga é alarmante, posto que, em seus 96 anos de existência, nunca chegou a um nível tão baixo de contenção de água. Mesmo com as chuvas do finalzinho do ano e começo deste, houve pouca melhora, pois chegou abaixo de 20%.

Na última quinta-feira do ano, o prefeito Rodrigo Manga, acompanhado da imprensa, do diretor geral do Serviço de Água e Esgoto de Sorocaba (Saae), Ronald Pereira da Silva, e do promotor de Justiça, dr. Antonio Domingues Farto Neto, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público do Estado de São Paulo, fez uma visita técnica á represa de Itupararanga. A princípio, fez uma vistoria aérea usando o helicóptero Águia, da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Depois, percorreu a represe em uma lancha. Nessa ocasião, o prefeito sorocabano informou que anunciará à imprensa, no dia 12 deste mês, o plano de racionamento de água.

Não apenas Sorocaba, mas também as demais cidades que recebem água da represa de Itupararanga, já há algum tempo, deveriam ter implantado o racionamento de água, porque só Deus sabe como será o volume de chuvas neste novo ano e o nível da represa poderá continuar caindo.

Por essa razão, a visita técnica do prefeito Rodrigo Manga já se fez tarde. Ele deveria ter usado essa carta da manga antes.

Roque Dias Prestes é advogado, escritor, jornalista, professor aposentado e presidente da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História