Falta de assunto?
Na verdade, gosto de pensar que chove, mas não molha ou, então, do dia que ainda parece noite, ou da meia noite em pleno meio dia
João Alvarenga
Talvez, o leitor já tenha se deparado com dias nublados que são convidativos à reflexão. Ou seja, são aqueles dias que ameaçam chover, mas não chove. Nem faz sol. Parece que tudo anda devagar e a preguiça vem junto. Bebericar uma xícara de chá, diante das páginas deste matutino, torna-se um agradável ritual. Minha avó costumava chamar esses dias de “lusco-fusco”. Ou seja, são dias que nos convidam ou a ficar na cama até mais tarde ou, então, a escolher na estante a companhia de um agradável livro.
Na verdade, gosto de pensar que chove, mas não molha ou, então, do dia que ainda parece noite, ou da meia noite em pleno meio dia. Curto essa ideia de estar acordado embora meio dormindo, pensando meio não raciocinando, matutando meio sem lógica, da quase matemática ou da quase fotografia que ficou uma foto que nada revela. Sim, gosto de pensar que posso esquecer-me de lembrar e que me lembrarei de esquecer. São nesses dias meio noite que acordo dormindo ou durmo acordado.
Se o estimado leitor não entendeu nada até aqui, parto para os esclarecimentos necessários. Antes, perdoe-me se isso parece mero jogo de palavras, como se não houvesse assunto. Não verdade, assunto, amigo, é o que não falta. Afinal, você é capaz de se lembrar dos acontecimentos que marcaram os 365 dias de 2021?
Foram tantos que, se fosse cronicar o mais relevante, cairia naquilo que o filósofo Luiz Felipe Pondé classifica de a angústia da escolha. Ou seja, não dá para quantificar quantos fatos impactaram a vida do nosso país nas últimas 52 semanas. Por isso, às vezes, até os cronistas têm seus instantes de crise de criação, principalmente nos primeiros dias de um novo ano, pois os fatos ainda estão por acontecer.
Todavia, como, no Brasil, o ano só começa, efetivamente, depois do Carnaval, permaneço na expectativa de que 2022 seja menos rancoroso que 2021, para que rendam crônicas lúdicas. Como não sou vidente, aguardo que este matutino estampe matérias alvissareiras. Pois, a vida segue!
João Alvarenga professor de Redação e cronista!