Nova paulada nos juros. E vem mais
É verdade que, na sua origem, a inflação foi causada pela elevação dos custos globais e não por aumento da demanda interna (...) Mas há os efeitos colaterais
Celso Ming
O mais importante não foi esse novo esticão nos juros básicos de 1,5 ponto porcentual ao ano. Isso já havia sido caçapa cantada pelo Banco Central em dezembro. O mais importante foi a comunicação de que na próxima reunião do Copom, agendada para 16 de março, a dose deve ser mais baixa. Não se sabe ainda de quanto será essa desaceleração, mas o Banco Central sugere que o primeiro semestre terminará com juros de 12% ao ano.
Neste fevereiro, os juros básicos saltaram de 9,25% para 10,75% ao ano, o que, por si só, além do fator técnico, carrega o psicológico, pois são agora juros de dois dígitos, que, em março, serão mais altos, talvez de 11,75% ao ano.
Primeiramente, duas explicações; e depois, as consequências desse movimento.
A primeira explicação vai para a agressividade do Banco Central, apesar da sinalização de uma desaceleração. A determinação é atacar a inflação sem dó com a única arma de que dispõe: a política dos juros. É verdade que, na sua origem, a inflação foi causada pela elevação dos custos globais e não por aumento da demanda interna. Por aí, não seria a mão pesada dos juros que daria conta do serviço. Mas há os efeitos colaterais (“inflação subjacente”).
Ainda há o impacto do aumento dos combustíveis, mas agora o avanço dos preços começa a se concentrar nos reajustes automáticos internos (indexação) e nos serviços que remarcaram para cima seus preços à medida que as restrições exigidas pela pandemia foram abrandadas.
A outra explicação vai para a determinação de antecipar o reajuste seguinte dos juros. O Banco Central chegará atrasado e perderá o controle das expectativas. Por isso, espera recuperar-se com clareza sobre o que pretende e cumprir à risca do prometido.
A paulada dos juros, a que já foi dada e a que ainda virá, produzirá três consequências. Primeira, derrubará a inflação. O mercado já aposta para todo o ano de 2022 em inflação de pelo menos metade da que foi produzida em 2021 (5,38%). Segunda consequência, a atividade econômica está sendo contida. Vai ser surpresa se o PIB deste ano crescer mais de 0,5%.
Terceira consequência, aumenta a probabilidade de que o real continue a se valorizar em relação ao dólar, porque mais moeda estrangeira deverá entrar para aproveitar os juros generosos. A queda do dólar no câmbio interno, por sua vez, ajudará a conter a inflação.
Nem tudo é claro por conta das incertezas. O processo eleitoral poderá produzir solavancos, as contas públicas continuam ruins e podem piorar e não se sabe até que ponto o Brasil e o mundo estarão livres de uma nova onda de Covid-19.
Celso Ming é jornalista e comentarista de economia.
Excepcionalmente neste sábado (5), deixamos de publicar o artigo do dr. Edgard Steffen.