Filmes do Youtube: "Arquitetura da destruição"
Artigo escrito por Nildo Benedetti
Caro leitor, interrompi a série de sete artigos sobre o filme “Ataque dos cães” para sugerir que assistam a esse importante documentário do sueco Peter Cohen sobre os fundamentos do projeto estético do nazismo. Penso que ajudará o leitor a interpretar o recente incidente no Flow Podcast envolvendo Monark, Kim Kataguiri e Tábata Amaral.
Não me deterei em discutir os argumentos apresentados por eles, porque as besteiras que foram proferidas pelo trio mostram total ignorância sobre vários temas, incluindo do que seja nazismo. Apenas exporei brevemente minha opinião sobre a ideia da legalização de um partido nazista no Brasil proposta por Monark.
O extermínio de minorias é parte integral da doutrina nazista. O projeto de Hitler era o de livrar o mundo dos que, segundo ele, impediam que uma nova civilização florescesse: deficientes físicos e mentais, comunistas, judeus, ciganos, testemunhas de Jeová, habitantes do leste europeu, homossexuais etc. Sua máquina de propaganda e o terror empregado por suas milícias paralisaram a capacidade de discernimento da maior parte da população alemã e tornaram normal a hostilidade às instituições, ideologias, ciência, cultura, que estariam contaminadas pelas ideias da modernidade. As artes clássica greco-romana e a renascentista deveriam ser resgatadas para tornar o mundo mais bonito e feliz.
Como foi possível que a Alemanha uma nação altamente civilizada, de grandes realizações nos campos das ciências, das letras e das artes , tenha regredido à barbárie sob o regime nazista?
Tenho escrito nesta coluna algumas ideias de Freud sobre pulsões que agem no inconsciente humano: as mantenedoras da vida e as incitadoras à morte. Por isso, somos seres ambivalentes, capazes do melhor e do pior. Podemos detectar em nós mesmos a inclinação para a agressão e, portanto, supor que ela esteja presente nos outros. Em consequência dessa mútua hostilidade dos seres humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameaçada de desintegração e é forçada a estabelecer limites para as pulsões agressivas do homem. Em “Psicologia de grupo e análise do ego”, Freud escreveu que o comportamento de um indivíduo passa por profundas transformações quando se engaja em um grupo. Alguns se integram ao grupo por esperteza ou oportunismo, mas a maior parte adquire uma espécie de mente coletiva e fica mentalmente presa a um líder, por mais disparatadas que sejam suas palavras e ações. A idolatria a um líder belicoso e odiento não é racional, porque se fundamenta na sua habilidade de liberar as pulsões destrutivas inconscientes dos seguidores. Hitler teve a capacidade de agregar as massas desiludidas e desesperançadas em torno de ideias que prometiam a criação de um novo mundo.
A ultradireita no Brasil ainda tem vergonha de se confessar nazifascista. É intelectualmente paupérrima, mas a oficialização de um partido nazista abre a possibilidade do surgimento um líder carismático capaz de aglutinar partidários em torno de algum projeto de ódio e destruição e conduzir o país à catástrofe, aproveitando o que o ser humano tem de pior. Devemos sempre lembrar que Hitler ascendeu ao poder de forma democrática. Assim que ali chegou, destruiu a democracia. E deu no que deu.
Na próxima semana retomarei a análise de “Ataque dos cães”.
Está série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec