As vaquinhas de Mococa
Até o saudoso papa e santo João Paulo II comeu os doces produzidos com o leite da vaquinha de Mococa
Vanderlei Testa
Quando nasci meus pais tinham uma cachorra chamada Pirata. Cresci brincando com ela. Na infância, havia um romantismo na cozinha com o fogão à lenha. Uma das minhas lembranças é a de uma vaquinha na embalagem de leite em pó. A tal vaquinha Mococa está gravada na minha mente. Penso que era meu irmão Darci, balconista de farmácia, quem trazia o leite com a estampa da vaquinha (foto). Passadas seis décadas desse fato, eis que acordei um dia pensando na vaquinha e na cachorrinha Pirata. Coincidentemente, no mesmo dia, conversando com o médico, doutor Alexandre Carrer de Sá, que me atende, ele me contou que nasceu na cidade de Mococa. Não comentei nada do leite, mas, veio-me à memória a figura da vaquinha Mococa dos meus nove anos de idade.
Fui pesquisar a história da cidade de Mococa e se havia relatos da vaquinha com o nome Mococa. Esse laticínio existe há 103 anos, fundado em 1919 pela senhora Isabel Barreto. Foram descobertas valiosas neste texto da “Vaquinha de Mococa”. Mococa vem do Tupi. Muco e Oca significa “Casa Pequena”. Decidi sair à busca de moradores de Sorocaba que nasceram ou moraram em Mococa. José Alberto Deluno Junior me contou que o seu pai, o professor Deluno, nasceu em Mococa no dia 10 de janeiro de 1932. Também foi amamentado na mamadeira com o leite da vaquinha. O José Alberto Deluno foi meu professor e permanece amigo há mais de 50 anos. Inclusive, ele foi um dos pioneiros na criação da Faculdade de Engenharia de Sorocaba, tendo recebido em 1992 o título de Cidadão Sorocabano. Sobre a sua vida em Mococa, o filho me contou que o pai estudou na Escola Barão de Monte Santo. Buscando novos conhecimentos o patriarca Deluno, filho de Galileu Deluno e Gabriela Lange Deluno, foi à capital São Paulo para se aperfeiçoar em escolas conceituadas até se mudar para Sorocaba em 1952. O espírito empreendedor do José Alberto Deluno veio do avô, dono de uma pequena transportadora em Mococa. Na sua história na cidade de Mococa, destaca-se o casamento com Maria Ignez Figueiredo. Ela faleceu em 1986, em Sorocaba. Estudou na sua juventude na mesma escola Barão de Monte Santo, fundada por seu tataravô. Maria Ignez se formou professora. Era filha de Orlando de Figueiredo e Irene Silva Figueiredo. Detalhe da sua descendência, é que o seu bisavô era dono de uma concessionária de veículos em Mococa e os maternos, proprietários do único cartório da cidade.
Lázaro Paulo Escanhoela Junior e Sílvia Guariglia Escanhoela são advogados em Sorocaba. Eles moraram em Mococa durante sete anos. Em janeiro de 1987, se casaram. Naquela época o Paulo foi nomeado juiz de Direito da Comarca de Mococa. Sílvia se lembra de que o noivo morava na pensão dos Viajantes. Após o casamento, fixaram residência na cidade e como concursada, Silvia foi trabalhar na Secretaria da Educação e Cultura do Município. O novo casal de Mococa sentia-se acolhido como parte da família mocoquense. Iam passear na praça da Matriz depois das missas. Silvia se lembra do supermercado Morro Azul, um ponto de encontro entre colegas de trabalho e amigos. Grávida do primeiro filho, Silvia fez o pré-natal com o médico Jacinto Taliberti Neto (Pico). Com a prematuridade do bebê, foi ter o filho Paulo Rafael em Ribeirão Preto, por necessidade de hospital estruturado como é a Maternidade Sinhá Junqueira. Sílvia valoriza até hoje o acompanhamento do médico obstetra e amigo de Mococa. Silvia e Paulo destacam o prefeito eleito duas vezes de Mococa, o padre com família em Sorocaba, monsenhor Demosthenes Paraná Brasil Pontes. Ele é o saudoso irmão dos meus amigos há 43 anos, Francisco de Assis Pontes (Chico), Lourdes e Maria Isabel (Mabel), que moram em Sorocaba. Entre as lembranças de Mococa, Paulo Escanhoela valoriza a inauguração do Fórum e os domingos que passava na beira do rio Pardo, nos ranchos de pesca dos amigos. Sílvia e Paulo, pais de quatro filhos, afirmam: “se um dia tivermos que escolher outra cidade para viver fora de Sorocaba, certamente será Mococa”.
Jefferson Sticca morou em Mococa até 16 anos de idade. Ele está em Sorocaba há 21 anos. Sua história de vida em Mococa é marcada pelas lembranças da Associação Atlética Mocoquense, festas do padroeiro da cidade, São Sebastião, e passeios junto aos casarões dos “barões do café”. Casado com a Marina Moreno Sticca, ele faz questão de estar mensalmente visitando os pais, Amilton e Rosângela, em Mococa. Seus pais e a irmã, Michele, mantêm desde 1978 a gestão do Laboratório de Análises Clínica São Sebastião, no centro de Mococa.
O médico Alexandre Carrer de Sá mora em Sorocaba com a esposa Raquel Torres de Sá, que é médica obstetra. Eles têm dois filhos, Francisco e Cecília. Os pais do Alexandre, Nelson e Ana Maria, moram em Mococa. Os irmãos Patrícia e Guilherme, em São Paulo. Mococa tem, conforme o último censo demográfico, 67 mil habitantes. É distante 265 quilômetros de Sorocaba. Um dos filhos famosos de Mococa é o artista plástico premiado Bruno Jorge.
O menino Alexandre andava de bicicleta com os amiguinhos pelas ruas de terra de Mococa na sua infância. Os seus olhos brilham ao recordar das vezes que os meninos paravam na fábrica de doces Biba para ganhar pedaços generosos embrulhados em papel celofane. Cresceu estudando no Colégio Maria Imaculada e na Escola Nova de Mococa. Fez o colegial na Escola Grafof e, aos 20 anos de idade, foi aprovado na Faculdade de Medicina de Sorocaba, tendo se formado na 49º Turma. Sem nunca ter perdido suas raízes em Mococa, mantém no seu consultório alguns objetos com gravuras da cidade, como a caneca de café que fotografei com ele, tendo a Igreja Matriz como decoração.
E, segundo o mocoquense Alexandre, até o saudoso papa e santo João Paulo II comeu os doces produzidos com o leite da vaquinha de Mococa.
Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul