Quando a pandemia acaba?
Em janeiro, os conselheiros concordaram unanimemente que o mundo ainda vive a pandemia. Em algum momento o fim chegará, mas se estima que pode demorar ainda de meses a anos
Mário Eugênio Saturno
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava que a epidemia de Covid-19 ganhava o mundo, tornando-se, então, uma pandemia. Alguns países já declararam o fim da pandemia, na prática, como o Brasil... Só se esqueceram de combinar com o vírus SARS-CoV-2, como diria Garrincha, nosso craque de futebol.
Mas, a Covid ainda está se espalhando pelo mundo, agora em países que venceram as ondas anteriores: Coreia do Sul com 1,9 milhão de casos nos últimos sete dias, neste último dia 11 de março, Alemanha com 1,3 milhão, Vietnã com 1,1 milhão e Holanda com quase meio milhão, seguidos de Rússia, França, Japão, Reino Unido, Brasil e Itália com mais de 300 mil casos cada um.
E uma surpresa inacreditável: São Paulo, apesar de ter a maior taxa de vacinados do Brasil contra a Covid, ainda assim, registra mais mortes, proporcionalmente, do que o Brasil -- se tirar a cidade de São Paulo, a proporção aumenta ainda mais. Este Estado tem 21,9% da população brasileira e a média de mortos por Covid em sete dias em São Paulo foi de 135 pessoas, contra 472 no Brasil, ou seja, 29,7% dos brasileiros. E esta proporção está alta desde o dia 14 de janeiro.
Mesmo assim, no último dia 9 de março, o governador Doria retirou a obrigatoriedade de uso de máscaras em ambientes abertos. Isso parece razoável, no geral, mas não é, por exemplo, na rua 25 de Março em dias de compras, e em tantos outros eventos lotados. Em São Sebastião, o prefeito liberou também em ambientes fechados, como supermercados.
Na mesma linha, países como Holanda, Reino Unido, Hong Kong e Nova Zelândia já declararam funcionalmente o fim da pandemia, levantando quase todas as restrições de saúde, mesmo quando enfrentam picos recordes, em sete dias, de 482 mil casos, 375 mil, 244 mil e 140 mil, respectivamente.
O número médio de mortes no mundo voltou aos do início de outubro, quando havia estabilizado e que durou até o primeiro dia de janeiro, quando o número de mortes cresceu rapidamente. Mas algo que não aparece e há dificuldades em medir é a subnotificação. Nunca tantos brasileiros morreram como no último janeiro de outras doenças...
Em janeiro de 2020, quando declarou o surto de SARS-CoV-2 como uma emergência internacional de saúde pública, um comitê de consultores especializados foi criado pela OMS e desde que se declarou a pandemia, a cada três meses, o comitê se reúne para reavaliar se o mundo ainda está em pandemia. Em janeiro último, os conselheiros concordaram unanimemente que o mundo ainda vive a pandemia. Em algum momento o fim chegará, mas se estima que pode demorar ainda de meses a anos, ou seja, não se sabe!
O SARS-CoV-2 já causou tantas dificuldades e desafios econômicos, sociais e educacionais que há a tentação de encerrar a pandemia mais cedo do que se deveria. A declaração da OMS de emergência obriga legalmente os 196 signatários a seguir as recomendações da OMS durante a emergência. Há que considerar que os fabricantes de medicamentos também assinaram contratos concordando em tornar as pílulas contra o SARS-CoV-2 e vacinas mais acessíveis enquanto durar a emergência. Entenderam os interesses econômicos por trás?
Mário Eugênio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano