A sustentabilidade não vai muito longe sem transporte

O transporte público é um meio mais eficiente do que aquele baseado na propriedade de automóveis pessoais, mas deve ser conveniente, confortável e confiável

Por Cruzeiro do Sul

Bjorn Anderson.

 

O transporte responde atualmente por quase um quarto de todas as emissões globais, representando um desafio considerável à medida que governos e empresas buscam promover maior sustentabilidade na batalha para combater as mudanças climáticas. O Brasil, somando diferentes setores, representa 1,34% da emissão global de gases.

A porcentagem pode parecer pequena. Sob a perspectiva do transporte, porém, o País tem supremacia do fluxo rodoviário. A dependência brasileira das rodovias é de 61,4% do modal rodoviário. Essa compreensão ganha relevância quando se observa que, globalmente, 45% das emissões de transporte vêm de viagens de passageiros, 29% de frete rodoviário, com o restante vindo principalmente da aviação e do transporte marítimo, juntamente com uma quantidade menor de ferrovias e outros.

Há também uma dimensão econômica na urgência de melhorar o transporte. O congestionamento do tráfego custa ao mundo centenas de bilhões em perda de produtividade. Existe um caminho a seguir. Mas se vamos inaugurar uma era de transporte sustentável, precisaremos fazer um esforço conjunto por trás das seguintes iniciativas: eletrificar o transporte, os veículos e a infraestrutura, transformando o transporte em zero líquido, eliminando as emissões de cargas, frotas e veículos de passageiros; tornar o transporte multimodal conveniente, confiável e verde para que o transporte público e a micro mobilidade façam mais sentido para mais pessoas; tornar as viagens urbanas mais eficientes, incluindo estacionamento e carga/descarga, tanto para passageiros como para carga; melhorar a sustentabilidade das viagens aéreas e das operações aeroportuárias.

O passo mais significativo para alcançar o transporte sustentável centra-se na eletrificação dos veículos. Trata-se de um esforço que envolverá automóveis de passageiros, grandes frotas de logística e carga e modernização da cadeia energética de apoio. A energia renovável, implantada no transporte, reduz as emissões de produção de energia, além de permitir a adoção de veículos elétricos (VEs).

Chegar a zero líquido para o transporte requer a construção de uma infraestrutura de carregamento de veículos elétricos e a eficiência do ecossistema de veículos elétricos. Alcançar todo seu potencial requer análise e otimização. Dados sobre tráfego de veículos, grandes cargas, necessidades de frotas e a disponibilidade de fontes de energia renováveis são aspectos vitais deste empreendimento. O Optimize Prime é um ótimo exemplo de uma parceria de organizações -- incluindo Hitachi, Uber e The Royal Mail -- que estão gerando o maior conjunto de dados de carregamento e uso de veículos elétricos do mundo, para se tornarem as frotas eletrificadas mais convenientes e eficientes.

O transporte público é um meio mais eficiente do que aquele baseado na propriedade de automóveis pessoais, mas deve ser conveniente, confortável e confiável para que as pessoas o utilizem. Uma maneira de os sistemas de transporte público melhorarem sua eficiência é implementando sistemas de emissão de bilhetes inteligentes, que ajudam as pessoas a passar pelos hubs mais rapidamente, protegendo assim, a saúde e a segurança e otimizando os horários com base na demanda.

Este não é um cenário futurista. As iniciativas de espaços inteligentes já estão usando tecnologias como 3D LiDar e análise de vídeo para avaliar fluxos de passageiros, operações em estações de metrô, tráfego em estradas e estacionamentos, obtendo insights para melhorar a segurança, a eficiência e a experiência do cliente.

Com análises sobre o desempenho e as condições das frotas de transporte, como ônibus e trens, as organizações podem otimizar os custos de manutenção e antecipar as ameaças de agendamento e disponibilidade para melhorar a confiabilidade, garantindo transporte mais pontual e disponível. Os dados também podem ajudar os trens e ônibus públicos a evitar acidentes e tráfego lento.

A micro mobilidade (e-bikes, scooters elétricas e bicicletas) pode levar as pessoas do centro de trânsito ao seu destino. Ela reduz as emissões e o tráfego de veículos de passageiros, enquanto aumenta a capacidade de passageiros em espaços urbanos congestionados.

A essa altura, deve estar claro que um sistema baseado em automóveis movidos a combustíveis fósseis que se arrastam pelo tráfego, é ineficiente em termos de energia. Embora o advento dos veículos elétricos e a infraestrutura para apoiá-los constituam um passo importante na direção certa, as melhorias no desempenho do tráfego também podem contribuir significativamente para o objetivo de promover uma maior sustentabilidade.

O uso de monitoramento e análise de interseções e a análise de padrões de estacionamento e tráfego ajudam a fornecer informações sobre como melhorar o fluxo de tráfego nos espaços urbanos. Permitir que os motoristas cheguem às vagas de estacionamento mais rapidamente por meio da análise de quais vagas estão disponíveis reduz o tempo gasto circulando para estacionar, que é estimado em cerca de 33% do tráfego da cidade.

O último passo para a sustentabilidade em termos de transporte é uma mudança filosófica transformada em ação. Todos conhecemos o mantra: reduzir, reutilizar, reciclar. Isso também se aplica aos nossos veículos e infraestrutura. Usando manutenção preditiva e prescritiva, soluções como gerenciamento de desempenho de ativos nos ajudam não apenas a melhorar o serviço, mas também a cuidar melhor de nossos veículos, infraestrutura e outros ativos. A abordagem prolonga sua vida útil e melhora a sustentabilidade de nossas operações.

Quando encontramos maneiras de reciclar ou criar derivados dos materiais ou ativos, ajudamos a criar uma economia circular duradoura -- uma que podemos continuar desfrutando e transmitindo às gerações futuras.

Bjorn Anderson é diretor sênior de Marketing de soluções IoT da Hitachi Vantara