Dia Mundial sem Tabaco 2022

Considerando todo o ciclo de vida do tabaco, 7 milhões de mortes por ano estão longe de representar o verdadeiro impacto dessa tragédia

Por Cruzeiro do Sul

Éric Diego Barioni.

 

Nicotiana tabacum L. é o nome da planta que dá origem ao tabaco, ao tabagismo e, por conseguinte, ao fumo passivo e à exposição via contato indireto e frequente com superfícies contaminadas com substâncias químicas oriundas primariamente da fumaça do cigarro (thirdhand cigarette smoke). No Brasil, ainda que o número de usuários de cigarro tradicional seja cada vez menor, a indústria do tabaco continua a manipular a atenção e interesse de nossas crianças, adolescentes e jovens adultos.

Reality Shows como o Big Brother Brasil, artistas, influenciadores digitais, músicas e as redes sociais continuam a exercer o papel de manipuladores indiretos, e a desinformação acompanhada da busca pela aceitação e produtos cada vez mais tecnológicos têm mantido nossos adolescentes e jovens adultos cada dia mais próximos de dispositivos prejudiciais, como o narguilé, o cigarro eletrônico e o próprio cigarro tradicional.

Dados obtidos da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) em 2021 mostraram que, no conjunto das 26 Capitais brasileiras e Distrito Federal, a frequência de adultos fumantes em 2020 foi de 9,5%, sendo maior no sexo masculino (11,7%) do que no sexo feminino (7,6%). Já no Vigitel 2022, a frequência de adultos fumantes em 2021 foi de 9,1%, sendo maior no sexo masculino (11,8%) do que no feminino (6,7%).

No mundo, o tabagismo e o fumo passivo matam mais de 7 milhões de pessoas por ano, e o tabagismo continua a figurar como a principal causa de morte evitável. Esse número de mortes, entretanto, não leva em consideração todo o ciclo de vida do tabaco, e o tema da campanha do Dia Mundial sem Tabaco 2022, proposto pela OMS, trata justamente sobre isso: o ciclo de vida do tabaco e os inúmeros impactos ambientais causados pela produção de folhas de tabaco.

Quando falamos em tabaco e meio ambiente, logo pensamos nas inúmeras bitucas de cigarro que são lançadas ao chão todos os dias e contaminam nosso meio, porém, apesar de muito relevante, isso não é tudo. O Brasil, juntamente com a Índia e a China, figura entre os maiores produtores de tabaco do mundo e é a agricultura familiar que mantém o Brasil nesse patamar.

Assim, para o monocultivo de tabaco, muitos e diferentes tipos de agrotóxicos são utilizados e contaminam não somente o solo e as folhas de tabaco, mas também os trabalhadores e seus familiares, a água e os outros animais. O desmatamento também tem o seu papel de destaque no ciclo de vida do tabaco e visa para além de possibilitar o plantio, que, aliás, é prejudicial ao solo, fornecer madeira para a cura das folhas, que muitas vezes é feita em fornos mantidos com madeira e fogo e certamente incrementa a contaminação dos trabalhadores rurais.

Várias etapas do ciclo de vida do tabaco são responsáveis por lançar gases de efeito estufa na atmosfera, utilizar e contaminar demasiadamente nossos recursos hídricos e esse monocultivo ainda tem levado muitos agricultores familiares ao endividamento, quadros de intoxicação aguda, intoxicação crônica resultando em câncer e suicídios diretamente associados à saúde mental dessas pessoas e ao uso indevido e frequente de agrotóxicos.

A que preço de maço de cigarro, cigarro tradicional ou tabaco continuaremos a matar, desmatar e envenenar direta e indiretamente o nosso planeta? Considerando todo o ciclo de vida do tabaco, 7 milhões de mortes por ano estão longe de representar o verdadeiro impacto dessa tragédia não somente sobre a saúde dos envolvidos, mas em todo o processo de desenvolvimento humano e de nosso planeta. Recomendo a você obter mais informações sobre a campanha em https://www.who.int/campaigns/world-no-tobacco-day/2022 e assistir ao documentário da Fiocruz em https://portal.fiocruz.br/video/o-diagnostico.

Éric Diego Barioni (eric.barioni@prof.uniso.br.) é biomédico, educador e pesquisador na Uniso, presidente da Comissão de Toxicologia e conselheiro do Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região (CRBM-1)