Incertezas, mas também coisas boas
A inflação, que atingiu 11,8% ao ano em junho, agora deve recuar. É possível que este julho traga uma inflação negativa
O segundo semestre do ano vai avançando em meio a muitas incertezas. Mas nem tudo são notícias ruins.
As incertezas começam na área externa. A guerra na Ucrânia se avizinha do seu sexto mês e, no entanto, não há sinais de desfecho. Ambos os lados mostram fadiga e os aliados parecem pouco convencidos da eficácia das suas sanções econômicas. O rublo, moeda da Rússia, se fortaleceu, o que é indicador de que a economia russa tirou proveito da alta dos preços do petróleo e dos alimentos.
Como não se sabe para onde vai esta guerra, também não há certeza de como se comportarão os preços do petróleo e das matérias-primas, principal causa da forte inflação global.
A ação dos grandes bancos centrais aponta para maior aperto dos juros. É o que pode atirar o mundo na recessão. Isso ficará mais claro quando o Fed, o banco central dos Estados Unidos, revir os juros básicos na reunião do fim do mês. Se confirmar a alta de um ponto porcentual ao ano, a freada da economia estará mais próxima.
A atividade econômica da China também não ajuda, porque a política de Covid zero contém seu PIB.
No Brasil, a tendência é de um avanço do PIB entre 1,5% (projeção do mercado) e 2,0% (projeção do governo). A distribuição de benesses eleitorais pode dar alento ao consumo e à produção. É o que também pode reduzir em alguma coisa o desemprego, que fechou em 9,8% no trimestre encerrado em maio.
A inflação, que atingiu 11,8% ao ano em junho, agora deve recuar. É possível que este julho traga uma inflação negativa. Como parte desse efeito se deve à redução de impostos sobre combustíveis, é possível que o recuo do custo de vida tenha prazo de validade, o que complica a política dos juros do Banco Central.
A área de maior incerteza continua sendo o comportamento das contas públicas. Com apoio do Congresso, o País vai atropelando a Constituição e as leis que cuidam do equilíbrio fiscal. E há o fator político-eleitoral que pode bagunçar tudo ainda mais neste resto de ano.
Apesar de tudo, três setores da produção continuam dando show. O mais importante deles é o agronegócio, que se prepara agora para a semeadura de primavera em direção às safras de 300 milhões de toneladas de grãos, previstas para até 2024.
Também vai bem a produção de petróleo e gás que, neste ano, deverá alcançar os 3,9 milhões de barris, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Passa por grandes investimentos o setor de energia renovável. A capacidade instalada solar fotovoltaica já é de 16,4 gigawatts (GW) e a eólica, de 21,5 GW -- o equivalente a quase três usinas de Itaipu.
E há o grande momento das contas externas. As Transações Correntes, que registram os fluxos de moeda estrangeira e mercadorias, serviços e rendas, deverão apresentar o primeiro superávit em 15 anos.
Celso Ming é comentarista de economia